"Tenho dias em que preciso de colo … dias em que mais que palavras…preciso de um abraço e de um peito para me aconchegar!.."
Fátima Rodrigues
Escreveria sem pudor,
lembrar-te-ia a dor!
Esconde a palavra que transmite,
Com sentido de não haver limite!
O momento que leva o vento
I
Voarás no desejo de não ter
Esconderes-te-ás na vontade de não me ver
Serás visivelmente invisível
Verás sem poder ver
E quando acordares
Hoje não sou o rebento que veio ao mundo Não sou sal Esta fábrica rouba-nos a identidade Corrompe-nos a genuinidade Torna-nos insossos Iguais Banais
A chuva embala-me o sono
E as pestanas sem dono
Caem pesadas e cansadas
Não sinto o corpo
Já quase morto
Mas a cabeça está avessa
Hoje apetece-me sonhar
Como se fosse criança
Sem o pensamento limitar
Devanear com a confiança
De que o sonho transbordará
Da ideia e passará
Hoje descobriste que não tens idade
Tens rugas e cabelos brancos
Tens olhares nostálgicos
Tens controlo nos impulsos.
Esmago lembranças apagando dias que jamais deveriam ter acontecido.
temos uma insuficiência inteira para conseguirmos ser suficientes
uma sombra: a sombra vem: a sombra não nos deixa
nós podemos ser a sombra: podemos ir: podemos não deixar alguém
palavra: esta noite é dedicada a ti: concedo-te a mordomia dos meus lábios, ao teu comando respire a minha exaustão e só sob ele adormeça o meu fulgor
PORQUÊ
Por que não sou como as outras
dócil e sossegada?
Por que não sei eu viver
sem estar apaixonada?
Por que persigo quimeras
Pensamento a curto prazo,
contido por enquanto, mais avolumado no encalço.
Retalha a rede, retalia a chama
num chão de amianto sob um tecto falso.
Temores te afagam o cabelo
enquanto dormes
e as insónias te formigam os pés
quando te moves
de frente para o seu oposto,
Alienados.
Presos em cordel ao topo do mundo
quedando-se sem sinal de fundo.
Atados a um corcel que galopa
sem qualquer evidência de rumo.
Não rimo pois não sei rimar
e não por ser o meu estilo de escrita.
Não é estilístico, não.
Não é para ser vanguardista
ou parte de uma corrente contemporânea.
Norman Friedman
"What Makes a Short Story Short?"
É a unidade de efeito
e o tamanho do assunto.
Os olhos ardem.
Qual o propósito disto?
Às vezes penso
que gostava de sair do meu corpo
e, sobretudo, da minha mente
e ocupar outra pessoa.
É cansativo ser eu a toda a hora.
Construo castelos de fantasia
geométricos, estáveis.
Aquando terminados,
sou eu mesma
a destruir
as fundações.
E quem sou eu, comigo mesma?
Sem espelho...
Quem sou eu?
Em retrospectiva vemo-nos em versões opostas,
A verdade espelhada num raio de sol,
Num gesto simples...
E o Diabo está nos Pormenores!...
Neles residem os demónios que nos perturbam
Quem és, vulto que passas fugidio?
O que me trazes e porque me escolheste?
Tu que não pertences ao mundo que se toca
Olho o dia de amanhã, e procuro-me!
Encontro-me no Hoje, no Agora...
Para me perder de seguida...
Tudo o que está por cima, está por baixo...
E o que mais é, senão Amor?
Esta grandiosidade silenciosa
que me consome e corroi
Esta ansia de olhar os seus olhos
E sentir o seu olhar no meu
Pálpebras cerradas
Não podem conter as esferas
que emergem sem autorização
e rolam, molhando a face.
Reconstruo uma vez mais
cada momento
Esses olhares. Ávidos!
A cada dia que passa, sinto-me como uma marioneta em tua mão. Basta. Acabarei com um poeta, Inanimado no frio chão.
Destrona a apática solidão que me consola, E apaga a raíva que me destrói... Incendei a melancólica chama, E como o vil sorriso de quem ama, Ensina-me a ser feliz...
Luto
Morte saudável De quem um dia já foi feliz De quem um dia inocente era Humano que ninguém quis.
Não sou!
Mas porque é que ei de ser?
Porque os outros querem?
Isso não me chega para ser.
Porque é que ei-de ser assim?
Eu até gosto de mim...
Eu faço o que quero dependendo do que posso. Vivo livremente dentro das limitações que tenho convencendo me de que sou livre de tudo.