Pintaste-me o corpo de baixo pra cima de mim do avesso para o mundo.
Depois regressaste sem pressa nas duas próximas curvas escondido em tons carmim.
INTERIOR
Somos ilhas flutuantes neste mar de gente igual enfrentando temporais.
Buscamos dentro de nós a verdade assaz diferente que nos ligue aos demais.
JANEIRO
Agarra a minha mão, é tua. Feita de seda e continua a pedir-te em cada gesto. Tudo é indigesto, tanta a fome que emagreço sem ti. Peço-te o chão, o que te quero dar, a mim.
Desenhei-te e mais algumas coisas boas.
Perdi o telemóvel, só com quem estou.
Levo a mochila às costas para onde vou
e as mãos livres para todas as pessoas.
Só há uma coisa,
e ela tem o contrário
e o complementar.
Tudo em si a contemplar!
É derivado do imaginário
que o real em nós poisa.
Como os nossos egrégios Avós,
naveguemos nesse espelho a imaginação.
Porque tudo é mentira e verdade.
Sejamos sempre de nós saudade,
rumo à realidade a sós,
a ideia escorre lentamente
fruto do corte profundo
escorrem também palavras que escrevo
que outrora escrevi
escorrem e invadem a noite
eu quero sussurrar miséria no lóbulo interior do teu eu
eu quero fazer crepitar o fogo e voar para fora das amarras que me detêm
sinto frio
frio dos teus dedos que percorrem o meu ser
calor
suspiro
esmagas-me o corpo como folha entre as páginas de um livro
abro a janela e sinto o ar húmido
sinto o beijo frio na minha pele
volto a ser criança
sinto-a escorrer pela minha face
encharco-me
Percebi que era no silêncio dos seus lábios
que lia os mais belos e dolorosos poemas.
Enquanto uma lágrima cai
ao som do silêncio,
sinto a revolta das palavras
1.
para-ler-debaixo-para-cima
Perdi a visão.
Fiquei só no meu sentir,
Sócio unipessoal da minha percepção.
Olhos que não vêem nem sabem o que perdem.
- Gente que se acha gente Gente não é Entre corpos e mentes Almas pouco crentes Encontra-se muita gente Que gente, o é.
Láu Oliveira
De tudo se faz a poesia
Desde a lata mais velha à mais bela fantasia
De tudo é feito o poema
Desde o trapo mais velho ao mais belo teorema
As paredes frias, amareladas; sujas, rabiscadas e decoradas.
Cansadas de tantas resmungadas; saudades em retratos e papéis ilustrados,
Passos são estalos, compassos quebradiços;
Arrítmicas sucessões de pequenos avanços.
Passam transeuntes e turistas varridos;
Passa a brisa e o olhar dos mendigos.
Passam cavalos e seu ar de martírio
Não estou perdido, só desencontrado;
Procurar-me é a sina, é tudo o que eu faço.
A manhã suave que acorda comigo
Rendo-me à vida
Às trovoadas que nos sacodem para logo sermos encharcados de coisas novas, belas...
Todas elas de cores feitas de arco íris e de alegria.
Tantos rostos, tantos sentimentos escondidos atrás de um sorriso tímido…
Tantos pedidos de socorro sem resposta guardados no fundo do coração na esperança de não serem lembrados!
Saberei eu cantar o sentimento
que a todos embrulha sem razão?
Ficarei encarregue do vento
que trás devagar a solução,
verei se é possível estar por dentro,
Falo da sorte como se ela não soubesse. Penso que só quer abraçar quem se esquece.
Não vejo o dia de ver o verde nas minhas mãos E o mar nos meus olhos Não vejo o dia de sentir o sol nos meus cabelos
sou um espelho antigo
frio . vazio . sombrio
como um túmulo
sobre a lareira domino o quarto
vejo lá fora as flores e árvores do teu jardim
Emoções
A alternância de estados
Que o espirito compreende
Manifesta-se de várias formas
E quase sempre surpreende
Entre a invasão serena
Tem Pessoa e Bocage.
Todas as inconsciências conscientes,
Todos os palavrões que líricos se escrevem,
Tem o que sou e outros que não sou.
Escrevo num guardanapo.
Foi o que encontrei para pousar a caneta roída.
Continuo na mesma. Na miséria física.
Agora, neste momento, só tenho este guardanapo.