Acredita que tudo que não vira poesia, vira pó. Portanto, escreve para se salvar.
Pai, pede perdão
Pela terra que invadiste
Pelo povo que expulsaste
Pelo sangue que derramaste
Em nome do trono de alguém
Minha pulsão de morte
Não age em conservação da vida
De tudo que é belo
De tudo que é triste
Hei de absorver o oposto
Aos moralistas, serei ímpio
Perdido na ociosidade, penso eu:
"Por que um deus há de me ter feito louco?"
É nessas horas que a luz atrai-me pouco
Viro um ser soturno, soçobrado em um breu
Ser imune tal qual predestinado
Para alcançar força devastante
No meio de todos o mais honrado
Ao estampar na alma o semblante
Do alto de seu arrojo indômito
E de sua postura impecável
Nota-se um cérebro imaleável
Onde a ponderação causa vômito
Condicionado a ser ignóbil
Pelas vielas de tua insônia
É que me parto sem saber
Se a lua cresceu sem sofrer
Ou se é efeito da amônia
Andei por vigas e mares abertos
José, recostado à janela
Fuma um cigarro
Contempla a rua, as portas, os postes
Sentindo a inutilidade
De toda esta fiação
Que vela as mentes
Dentre as maleficências implodidas ao redor
E mentes brilhantes cruelmente desperdiçadas
Percebo em meio a falácias tão equivocadas
Foste o nó que desatou nosso laço
Traíste minha quimera com tuas trevas nervosas
Fizeste de minha brisa este lúgubre mormaço
A mesma aurora que nasce em céu já nítido
E faz avivarem-se as bocas sonolentas
Faz brotar, sem a devida licença
As mágoas que carregam os olhares oprimidos