O circo das tempestades

 

O circo das tempestades

Português

O palhaço da roulote emagrecida,

na porta de entrada está crucificado o número vinte e três,

sem vizinhos para conversar,

o palhaço morre em pedacinhos...

e era feliz se morresse de vez,

silenciavam-se as vozes dos espectadores anónimos,

um punhado de palmas ficavam alegres,

e contentes,

e o circo transformava-se num círculo com anéis de prata falsificada,

há nos seus olhos a desilusão de um tardio amanhecer...

depois do espectáculo, entra na roulote, e acende a lareira da solidão,

e espera, e desespera... o regresso do novo dia,

o palhaço com botas de cansaço,

sonha subir até às estrelas que estão suspensas no tecto da dor,

um poeta também vestido de palhaço... inventa jardins de arame,

e locomotivas em cartão,

sofre,

sofre ele porque dentro da roulote nada mais existe do que a lareira da solidão,

chora,

e ele percebe que a vida é um espectáculo sem abrigo,

um homem desiludido com o circo das tempestades.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Quinta-feira, 18 de Setembro de 2014

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