Grito

 

Grito

Portuguese

Agarrada às coordenadas da sua dor de amante

olhava as ondas a imitarem-se,

como se espreitasse por dentro

de uma janela esquecida, a querer luz.

O momento, inocente,

assistiu mudo, mas não ligou.

O vento passava-nos a cara a ferro,

e entrava, por debaixo das portas

que abrimos um ao outro.

E a manhã seguinte era sempre infinita.

Os ferros quentes espetavam-se, devagar,

no remorso do meu corpo

que gritava mais alto do que todos

os coros do mundo.

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