Os candeeiros perdurados
nas avenidas calcetadas de Lisboa
podem ter sido lareiras acesas.
Ficavam em brasa nos meses de Outono,
com o encurtar dos dias,
Agarrada às coordenadas da sua dor de amante
olhava as ondas a imitarem-se,
como se espreitasse por dentro
de uma janela esquecida, a querer luz.
E ao domingo era pior, ele rodava a fechadura do quarto
sem precisar de lutar com a ferrugem.
Sobre os lençois, rasgava-me novamente o corpo.
aconteceram-me noites no corpo, agudamente nu,
diante deste erguido músculo da vida
e a lua, na ira da sua posição côncava é recortada pelo som
foi a inquieta mutação nas mãos de um oleiro
que lustrou o pesar de uma lágrima teimosa e, caída,
dilatou-se no momento em que o vento se desatou
preparo-me de um silêncio alto
- na copa de uma árvore gasta -
para que os teus dedos mal cicatrizados não sangrem de espera.