E ao domingo era pior, ele rodava a fechadura do quarto
sem precisar de lutar com a ferrugem.
Sobre os lençois, rasgava-me novamente o corpo.
Ao ouvido, e em segredo, o seu hálito chamava-me de puta.
Atava-me as mãos aos braços da cama impedindo-me de abraçar, sequer, a morte.
Baixava as ceroulas, despia a camisola branca, e aquele suor furava-me a pele.
Limpava a testa com as costas da mão, e outra vez, puta, baixinho.
Não valia a pena apressar a vagina feita da vagarosa eternidade.
Silenciava o meu olhar no tecto do tempo
e o tempo não passava porque eu não existia.
Tinha medo da quietude do mundo,
enquanto as peles ásperas dos seus dedos me fodiam ao ritmo quotidiano desse mundo.
No fim, libertava-me as mãos, sem se dar conta que me deformara,
para sempre, impedindo-me de abraçar a morte verdadeira.
Comments
Gostei. Forte e Surpreendente
Gostei. Forte e Surpreendente. "Silenciava o meu olhar no tecto do tempo
e o tempo não passava porque eu não existia."