Morte verdadeira

 

Morte verdadeira

Português

E ao domingo era pior, ele rodava a fechadura do quarto

sem precisar de lutar com a ferrugem.

Sobre os lençois, rasgava-me novamente o corpo.

Ao ouvido, e em segredo, o seu hálito chamava-me de puta.

Atava-me as mãos aos braços da cama impedindo-me de abraçar, sequer, a morte.

Baixava as ceroulas, despia a camisola branca, e aquele suor furava-me a pele.

Limpava a testa com as costas da mão, e outra vez, puta, baixinho.

Não valia a pena apressar a vagina feita da vagarosa eternidade.

Silenciava o meu olhar no tecto do tempo

e o tempo não passava porque eu não existia.

Tinha medo da quietude do mundo,

enquanto as peles ásperas dos seus dedos me fodiam ao ritmo quotidiano desse mundo.

No fim, libertava-me as mãos, sem se dar conta que me deformara,

para sempre, impedindo-me de abraçar a morte verdadeira.

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Gostei. Forte e Surpreendente

Gostei. Forte e Surpreendente. "Silenciava o meu olhar no tecto do tempo

e o tempo não passava porque eu não existia."

 

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