É fim do dia, e o sol escorrega para o horizonte, enquanto um vento quente repousa na areia. Sentam-se no chão, num movimento indolente.
ELE: Não te podes fechar no teu mundo. Dá-te aos outros.
ELA: Porquê? e para quê?
ELE: Para todos nós sermos melhores com a partilha de ti.
ELA: Mas o meu mundo é a minha casa, o meu refúgio, o meu segredo. O meu mundo não me magoa.
ELE: Mas não te espanta, não agita as tuas aguas.
ELA: As minhas aguas são tempestade. Mas é a minha tempestade, e ninguém tem o dever de a enfrentar: essa é a minha tarefa.
ELE: Não tens fé nos marinheiros corajosos. Não podes ser feliz a navegar sozinha.
ELA: Ninguém é feliz. Apenas usam a máscara da felicidade.
ELE: Afogaste a tua esperança a meio do percurso? Ainda estás a milhas do teu destino...
ELA: E o que é o destino? Será uma meta real ou imaginária? O meu destino hoje é ver o dia morrer, sentada ao teu lado...amanhã...não sei!
ELE: Mas sabes uma coisa: o dia morre e nasce no teu mundo da mesma forma que no mundo cá fora. Porquê não partilhar?! O sol nasce para todos, assim como também morre.
ELA: E porquê falar em partilha? Não se pode apenas vivê-la? Dá-me a tua mão e em silêncio dividiremos o momento...? - sorri. Ele retribui, segurando-lhe a mão. E diz:
- Se pensas que evitas uma dor ao não te dares a quem te rodeia...iludes-te. Nasce um vazio que será erva daninha a comer-te a alma. Sonha, e não tenhas medo...Eu carrego-te no colo até aprenderes a andar sozinha num caminho desconhecido...
Ela sente, então, transbordar o mar do seu mundo através dos olhos admirados... Ele queria que ela saísse cá fora. Mas, sem darem por isso, era ele quem tinha acabado de entrar no seu refúgio, no seu segredo, no princípio do fim da sua solidão.
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