A manhã está alegre demais e o meu corpo efémero. Desembaraço-me dos lenções de seda azuis, oferecidos pelo meu ex-marido, ele sabia que eu gostava desta cor. Sinto-me num emaranhado de confusões internas. Por alguns segundos sinto as pernas falharem-me, mas numa teimosia só minha mantenho-me em pé. Alcanço o copo de leite solitário na mesa da cozinha e bebo-o, como quem bebe o passado. Ricardo costumava-me preparar o pequeno-almoço… Perco-me nos seus olhos azuis, que aqui já não estão. Perdemo-nos nos espinhos de um casamento sem novas aventuras. Disseste tu que já não reconhecias a mulher por quem te apaixonas-te aos dezassete anos. Ficaram gravados os nossos momentos imortais. Quero pedir-te desculpa, mas não estás… Desejo a morte para ver o meu filme preferido diante dos meus olhos sem tecnologias. Eis o filme da nossa vida. Quero-o! Preciso dele… Já te vejo, o teu riso, sinto-te. E chamas-me. Escureceu.
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