O sol entre os telhados,
as andorinhas nos ninhos dos beirados...
-O vento tem coração?- eu perguntava.
-Tem-dizias- assim como os teus olhos têm borboletas a brincar.
A chuva quente de verão
em pingos grossos que desbotavam o chão,
que provocavam um cheiro morno no feno
e refrescavam a urze
onde brincava a abelha
num zumbido sereno.
As nuvens têm abraços?
- Têm-dizias- porque os teus olhos são duas folhas tenras.
A formiga trabalhadeira,
incansável, laboriosa
e a cigarra cantadeira
teimosa preguiçosa.
Na lua existem flores?- perguntava eu.
-Sim- dizias tu- porque o teu coração é um pintor.
A tua navalha descascava a maçã
que partias em quatro pedaços
e davas-me um a um...
Posso ter sete vidas como o nosso gato?
- Podes- dizias tu- se não esqueceres o eco das serras em primavera
quando te fizerem prisioneira num campo de guerra.
A lagartixa aparecendo e desaparecendo
entre as pedras da casa do cão,
que incomodado saltava e gania
tentando matar a pulga que o mordia.
-O mundo aqui é tão gigante!- exclamava eu extasiada.
- Sim, lá fora é uma gaiola.
Hoje, eu sei o quanto essa tua divagação, não foi exagerada.
Fernanda R. Mesquita
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Um poema do meu novo livro ´´Janelas`` editado pela editora Poesiafaclube. Foi muito bom trabalhar com o espírito amável, profissional e disponivel dos representantes da editora. Muito obrigado! Fernanda
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