Doentia Falta de Amar

 

Doentia Falta de Amar

Português

Andei desaparecido desta morte.
"Está na miséria." Diziam uns.
"Só tem os ratos como amigos." Comentavam.
Pois bem aqui estou. Como sou, como não querem que seja.

O desprezo cai muitas vezes sobre mim.
Mas eu desprezo esses olhares.
Nada valem para mim. São falsos.
O que importa é olhar para a mão e sentir o calor.

Aquele calor esquisito, de quem ao frio nunca esteve.
Aquele calor que quase arrefece de tão quente que podia estar.
Enfim, só confusões em cada das minhas cicatrizes.
Cicatrizes de amor por certo.

Se doença nunca tive. Se quedas também não.
Se são estas cicatrizes de dor, pois bem.
Só na minha vida houve uma única dor.
A dor de ter de amar.

Às vezes penso nessa dor.
Ainda cá está como o calor da mão.
Ainda queima, ainda arrefece. Depende.
Nos dias em que passas, queima.
Naqueles em que não passas, arrefece.

Apesar de dor, é a minha única consolação.
É essa dor de amar que me faz sentir que fiz algo na vida.
Amei alguém. E isso talvez os olhares de desprezo nunca fizeram.
E posso estar a um palmo do nada, posso cheirar o odor da miséria.
Mas eu e tu sabemos de que são feitas estas cicatrizes.
E isso é o que mais me importa. Nada mais.

Nada me fará cair mais do que o que estou.
"Está louquinho. Passou-se de vez." Falavam.
Eu por vezes ria-me.
Tanta miséria neles e eu é que a cheiro.
Tanta falta de amor. Tanta desgraça.
E eu, de camisola rota, vou amando.Em vão, mas amo.
Pois a grandeza de um homem vê-se no tamanho do seu amor.

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