Baía de Luanda

 

Baía de Luanda

Português

(Ao meu Pai)

Corre nas minhas veias um enxame de saudade,

percebo pelo espelho do guarda-roupa que existe sobre os meus ombros uma lâmina de silêncio,

procuro nas lágrimas do amanhecer a tempestade da insónia,

e sei que se abrir a janela do cansaço...

um pássaro azul poisará no meu olhar,

sinto-te triste,

amargurado...

desiludido como um soldado,

quando a espingarda lhe é apontada,

e parece que não queres fugir,

apenas preferes ficar sentado...

sentado a ver a Baía de Luanda quando passeavas com uma criança,

e de mão dada...

lhe segredavas,

um dia, um dia meu filho... vamos regressar,

eu, eu olhava o mar, e... e acreditava,

imaginava-me um marinheiro de cachimbo ao canto da boca,

sentia no meu corpo os apitos da paixão,

pela terra,

pelas árvores... pela cidade,

e inventava outros meninos como eu...

que passeavam de mão dada com a saudade,

e desde então... nunca, nunca mais vi a Baía de Luanda!

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

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