Ópio

 

Ópio

Português

Pendem-me duas pedras num pulso
na derradeira prova de que existo
que se prendem em mim as coisas
como em todas as outras

e há quem lhes chame jóias
há quem lhes chame essências
há até quem não as chame 

e trocava eu 
todas as riquezas
por mais um beijo teu

desses com a psique
de água salgada
que não me sacia
mas me mata de desejo

e sussurras verdades
que o são porque as crês
como crêem os bichos
nos instintos

e dizes
que seguro os tornados
como se fossem as mais albas penas

e crio a geometria do caos
neste eixo que orienta os naufrágios
e acalma os mares

ou quem sabe
ser eu esse teu obscuro paraíso
em que pendem as rotas e os mapas
na aleatoriedade do universo

contas feitas
ficamos à deriva
com o desconforto
da brisa quente 
no mais tórrido dia
deste Verão

e que as pedras sejam apenas pedras
e fiquemos viciados
no ópio dos beijos

como feras que se combatem
e se encontram
sem remorsos
sem culpas

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