RÉU E QUEIXOSO
Quem disser, que amar é só proveito,
É porque nunca amou, provavelmente,
ROSEIRA CHOROSA
Chora a roseira pétalas saudosas,
Como quem chora um último adeus,
Traças linhas laranjas no ar
Queimando nada e, no entanto,
No meu peito escrevinhar
Em fogo, em escara, o seu encanto.
Para sempre deusa, bailarina,
Parados no areal imenso,
Sob o sol ardente que beija
E morde através de cabelo denso
Os sonhos estivais que a alma deixa
Que cresçam torradas no ser
~~NO LABIRINTO
Sozinho, ando eu no labirinto Dos sentimentos, que se atropelam, Sigo pelos trilhos, em que eu sinto, Que, ao fundo, alguma luz revelam.
Rodopiaste, leve, p’lo salão, Com a leveza própria d’uma pena… Sorriste-me, segura, tão serena, Que deixou de bater meu coração!
Na noite naufraguei em mar revolto, Sem ver, por vezes, o teu areal... E o pânico é muito, o medo é tal Que agarro esta jangada e não me solto!
Palavras que calei, falai agora, Revelai sonhos meus, risos e dores, Contai a quem dedico meus amores, Dizei os nomes que deixei de fora…
Os poemas são filhos, são gerados No seio das palavras que seduzo… Não as poupo, e delas não recuso A oferta dos filhos tão amados!
Deixa que meu silêncio, meu amor, Te diga, no silêncio que é tão nosso, O que dizer-te quero mas não posso, Que a força do silêncio é maior...
~~O SOL
Dizem, que o sol nasce para todos, A água lava tudo, quando passa, Porém, há quem receba o sol a rodos, Mas pra outros, a água é sempre escassa.
~~MEU POEMA
Deixa que meu olhar se extasie, Olhando a beleza desse corpo, Talhado a martelo e a escopro, E que o possa olhar sine die.
~~PÁSSARO NEGRO
Há um pássaro negro que esvoaça, Que traz desconfiança na penugem, E lança a confusão onde passa, Que o incauto engana por lambugem.
~~A FEIRA DOS ENGANOS
Na Feira dos Enganos há muito orgulho, Há muita presunção e até desdém, Há, pois, pouca verdade e muito engulho, E falta de amor-próprio, também.
~~O SILÊNCIO
Eu gosto de falar com o silêncio, Em íntimas conversas, à noitinha, E lhe conto o que da vida penso, E ouço, se tem ideia igual à minha.
~~QUEM AMA O QUE TEM
Quem ama o que tem é bom amante, Porque ama o que lhe coube na sorte, Não tem outro amor que lh’ importe, Que esta vida passa num instante.
~~O FUTURO
Afinal, o que inquieta é o Futuro, Mas, há quem viva, sempre, no Presente, Porque aquele, é um lado obscuro, Por isso, mete medo a muita gente.
~~AMANHÃ…
Amanhã é domingo, o que m’ importa, Para mim os dias são sempre iguais, Cada hora que passa, é hora morta, Visto que já não volta, nunca mais.
~~SERÁ DA SINA?
Se a vida é dádiva divina, Porque será, que as há tão desgraçadas, Será que é tudo da sua sina, Ou que não passa tudo de charadas?
~~UM SEGREDO
Como consegues tu, inda, sorrir, Com todas essas mágoas no teu peito, Como consegues tu, esse teu jeito, Que não consigo, mesmo, definir?
~~OH! BRANCAS NUVENS….
Oh! Brancas nuvens, que no céu passais, Alheias à dor e ao sofrimento, Que cavalgais a aurora nesse vento, Donas do tempo e dos temporais.
~~MIRADOURO
Quando chegar àquele miradouro, De onde se abarca a vida toda, Donde já se vislumbra o vindouro, E onde o presente se acomoda,
~~ESCREVO-TE…
Escrevo-te estes versos, pra que saibas, Que o meu pensamento está contigo, E por entre a solidão e as raivas, Ainda és um porto d’ abrigo.
Será só da natureza ardente pelo calor extremo do verão
ou também do descuido do homem com a mata e floresta?
Então porque se encontram vestígios criminosos pelo chão
UM NOVO SER Escrever um poema, é como quem pare, É como, quem traz à luz um novo ser, É como, se sentir triste e cantar, E dar a sua dor, a conhecer.
ESTE MEU FADO Andei junto ao mar, como certo dia, Contentes caminhamos, lado a lado, E as ondas, que aquele mar trazia, Eram o nosso tapete debruado.
O QUE SE SENTE Não fiques tão perturbada, Por coisas tão triviais, Choras por tudo e por nada, Oh! Monte dos Vendavais.
AS NUVENS Olhei as nuvens no céu, Tantas figuras, lá vi, Todas envoltas num véu, Tanta coisa descobri.
A GARRRAFA Estava aquela garrafa flutuante, Em luta para chegar ao areal, Ficaram meus olhos presos, nesse instante, Na acérrima luta desigual.