Meu Ocaso, minha irmã, meu sono...
Dei-me a beber.
Sou menos meu e mais do outro.
Como adivinharia os dedos por trás do mundo?
Depois de ti varreram-me o azul dos dias.
Tenho demasiada Europa derramada sobre mim...
Já não posso voltar.
Sinto-me banido.
Depois de um deserto vem outro.
Atrás de um Inferno, Outro.
Estou doente,
faz frio dentro de mim.
Se tento voltar atrás
vejo-me em contra-mão
com a vida...
Se me olho nos olhos,
apenas me vejo a mim
que me olho nos olhos,
onde me vejo só a mim
que me olho nos olhos,
onde me vejo a mim...
À frente de mim... nada:
Nem meta,
nem boca,
nem prémio,
nem...
Lembro-me quando existia
só nos teus lábios...
Quando nada tinha a perder,
porque tinha as mãos nuas...
Já não sonho.
A Poesia em excesso foi negra noite,
E é precisamente noite,
só noite,
o que me sai das mãos...
Já nada tenho para dar.
Estou prestes a encenar o meu último poema.
Com a vida
Partirei zangado,
confuso,
ausente,
sem palco...
Dir-te-ei Adeus!
Meu ocaso, minha irmã, meu sono...
Comentários
Brilhante.
Como sempre, fantástico. Mas o sentimento é provisório. É que o melhor está para chegar meu amigo.
Um abraço :)
Obrigado amigo
Sempre ai ;) Um abraço do tamanho do mundo.
muita intensidade
Um poema que expõe a alma do poeta, o poeta que sonha, sofre, vai fundo e tenta voltar à tona. Poetas sofrem mais porque sentem demasiadamente e, através da poesia há um transbordar de sentidos, letras que nos contam a alma, cortam a calma, escondem ou transmitem o real desespero. Parabéns pela belíssima poesia!
Muito Agradecido.
Obrigado pela leitura atenta e pelas belas palavras para com este meu poema.
"Estou prestes a encenar o
"Estou prestes a encenar o meu último poema.
Com a vida
Partirei zangado"
A parte acima citada chamou a minha atenção,o verso latejando e colocando no centro do espaço cénico a vida... eu diria que há tempo para ficar feliz porque o adeus, enquanto a palavra mais triste do nosso léxico, encerra em si mesmo o seu oposto, busca um possível antónino : Olá !
Parabéns. Abraço.
Agradecido Luiz
Obrigado pela partilha e por muito mais. Um abraço.
Solidão
Medo do medo. Medo de não ter mais raízes no lugar de origem...Haverá solidão maior?
fantastico
fantastico amigo um abraco
cs