Conheces-me do país dos sonhos, dos contos de embalar, dos trilhos sombrios inundados de relento.
Paladino da razão, por que temes esta verdade em que ardo?
É tarde.
Vens calada pelos trilhos do pó.
Creio-te candeia, quando és rocha morta, pedra descarnada, pálido sudário rasgado no breu.
Perco-me.
Há algo no gracejo do vento que espirala as folhas.
Quebram-se-me os passos na calçada suja, no olhar os sonhos que para a terra deslizam como calha.
Anoiteço.
Escuto ao longe um sonho,
pensamento gritado no sopro cálido do Estio.
Pelas charnecas já gastas que a hora fria emudece, chego alada, chego antiga; trago nas asas todo um sonho, no pranto toda uma vida.
Longa a espera, longa a náusea,
p'lo trilho vadio que me afasta
Devagar.
Já não desejo ir
a este universo em mim
Esvazia-me.
Faz frio aqui, entre a loucura e o perdão.
O ar move-se em mim, na altitude das cores que se evolam.
Não há na vertigem outro pensar senão o das aves; sou o que o vento segreda.