Natércia Simões

 

Sentir de ti

Decapito a urgência
do jejum de silêncios
que o coração me ordena
e a voz (des)respeita.
Cubro minhas cicatrizes de cinza
e o corpo, mudo, de medo.

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Bebo

Bebo de um trago só
os sonhos do amanhã.
E na imersão da sombra,
nesta realidade em chamas
avisto o meu universo de ausências.
São ténues névoas

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Tu

Rasgo-te a carne
com a brevidade do rasgar
de uma folha de papel.
E escrevo no teu corpo,
a tinta permanente,
as palavras que não cabem
no caderno.

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Esboço

Esboço de gente
que se esbate ao raiar de cada dia.
Lembrança fugidia, de mim,
aprisionada ao papel amarelado,
p´la vida bolorenta, nublada,

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(Narr)ação do Eu

Estranho estes ossos
mascarados de fartura,
onde habito.
O espelho reflete-me
mas os olhos não crêem.
A alma boceja, um enfado
preso aos afagos da alma

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Corpo

Corpo sem viço, que navega

num olhar arrítmico de emoções

que se dissipam

uando a noite principia.

E a vida, difusa, de olhar adiado e preso

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Cão

Mas vens até mim, humilde cão, desperto, 
bater na porta cerrada
deste meu mundo de areias, deserto.
E vens nascido no fogo do pecado,

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