Nesta dor desigual

 

Nesta dor desigual

Portuguese
Fotógrafo: 

“Nesta dor desigual.”
Neste preciso momento fotográfico,
sentei-me tentando estar no teu lugar,
olhei para o teu corpo triste e magro,
observei de olhar escondido, o tremer nervoso dos teus lábios.
Reparei nas tantas vezes que entrelaçavas as mãos. Talvez estivesses a rezar em silêncio,
talvez estivesses apenas ansiosa ou talvez gesticulavas para apenas disfarçar a tua revolta.
Na cabeça trazias um lenço negro de pano em forma de turbante,
por onde podia ver aquilo que não querias que os outros vissem,
que estavas nua dos teus lindos cabelos ondulados,
Talvez tivesses vergonha que olhassem e se rissem de ti, quem sabe! com receio de seres gozada por estares calva ou porque não gostavas de veres-te assim em frente à um espelho.
Não me admiro nada dos teus receios! Afinal, existem por aí muitas pessoas de alma vazia,
que não sabem, que não pensam, que não sentem e apontam o dedo a toda gente…
Registei o que meus olhos também pensaram, tal qual como viram.
Reparei nas imensas vezes que levemente passavas a mão pelo ante braço. Talvez com medo da dor que ainda não te habituaras! Talvez por imaginares á vez daquela agulha do tratamento de quimioterapia, que te magoava sempre a memória.
Talvez porque já não suportavas sofrer tanto! mas, o que ainda contava, era mesmo à esperança de venceres esse cancro nessa batalha…
Lembro-me de coisas que já nem quero lembrar, contudo, não são fáceis de esquecer!
como a lágrima nos teus olhos a brilhar, e o sorriso que esboçavas para tentares apaga-la,
sem que dela se notasse o molhado da dor e tristeza que te sufocavam por dentro.
Quantas vezes tentei colocar-me no teu lugar, no teu total sofrimento e tão pouco pude fazer…
Que dor a minha dor, ver-te assim, ver-te doer.
Ainda me doí, nesta dor desigual…
Por: Walter Aguiam.

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