De todas era ela a que mais encantava. Nunca se cansava de rodopiar ao som da música que permitia a qualquer um viajar pela terra dos sonhos e pela magia dos sentidos. Contudo, poucos tinham acesso a esta viagem. Uma viagem que só ela oferecia a passagem.
Todos se perguntavam como ela nunca se cansava de rodopiar. Como conseguia ela? Ainda mais bela a cada rodopio, e rodopiava novamente a cada olhar encantado e a cada sorriso desarmado.
Ela sabia que precisavam dela. Ela sabia da importância da sua dança. A cada pedido silencioso transportava quem quisesse a um mundo continuadamente desconhecido para muitos. Um mundo diferente, onde tudo era possível a quem se deixasse seduzir pelo som do seu rodopio.
No alto das suas pontas de bailarina ela era feliz. Enquanto dançava era contagiada pela espontaneidade dos mandamentos da sua própria alma. A sua felicidade era enriquecida todas as vezes que apresentava um novo sonho a um coração diferente.
No entanto, era por vezes avassalada pela tristeza de olhares mudos. Olhares tão vazios de brilho que eram capazes de escurecer a própria a noite. E por mais inebriante que fosse a sua dança ela não os conseguia conduzir para o seu misterioso e apaixonante mundo.
Quando a caixa se fechava e ela descansava, os seus pensamentos eram tomados pelas lembranças daqueles olhares que não conseguiu resgatar. Ela indagava-se sobre o motivo que levava as pessoas a tornarem os seus sentimentos tão vulneráveis às teias da razão. Porquê tanto medo de se deixarem cativar?
Sempre que a caixa se abria ela percebia! Ela percebia que a capacidade de sonhar estava expressa na vontade de cada um em libertar as correntes das suas asas e, ao deixarem-se hipnotizar a cada nota, voar cada vez mais alto, voltando com mais um pedacinho de si mesmos. Ela percebia que a permissão para sentir era tomada pelo mesmo desejo de se deixarem perder.
Cada vez que a caixa se abre têm dela o que querem conquistar. A bailarina da caixinha de música descobriu que a beleza das coisas está nos olhos de quem as contempla. Ela tem na sua posse a magia para a passagem do mundo dos sonhos. A entrada dependerá da capacidade para se deixarem enfeitiçar e envolver pelo desconhecido.
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