Ao longe
para lá da porta da cozinha
o barulho da cafeteira
e o sabor a café
na tua boca
e eu nem consigo decidir
se o bebo
se te tomo o gosto
por agora, meu bem,
agarra-me bem forte
que chove tanto lá fora
perde as razões por um segundo
e deixa que a música nos leve
que nada é lógico no desejo
e nada faz sentido no amor
deixa que sejamos obscenos
ou loucos ou, até, celestiais
podemos mesmo ser banais
que mesmo assim
não haverá nunca tanta luz
a iluminar-nos as sombras
Por isso,
percorre a minha perna
com a tua mão,
agarra-me pela cintura
no ritmo frenético de um tango
que mais ninguém parece ouvir
deixa-me provar-te
enquanto rodamos
na pressa de uma paixão
que nunca foi o que devia
nunca fomos corretos
por vivermos em tons de cinza
quando o mundo é preto e branco
então,
rasga-me a pele,
bem devagar,
com beijos
que a tua boca não sabe mais guardar
que eu curo-me de amor
(ou morro dele)
quem sabe?
despe-me de vidas
eu já não as posso usar
e eu dispo-te das tuas
somos nós o vermelho
que os encadeia
por não puderem ser assim
puxa-me
para bem perto de ti
que o café escorre da chaleira
e eu já o provei da tua boca
e nunca me soube tão bem
pecar por ti
pecar por alguém
e se for errado
nunca soube ser tão certo
deixa-te e vem
meu bem, e vamos dançar
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