Outono

 

Outono

Portuguese

Outono

 

Fecham-se as portas do estio

Nos acenos da noite acalentada

Em que os dias aborrecem o frio

Até ao último suspiro da saudade.

 

Abrem-se as janelas à cor da cinza

Da terra mais fresca, atapetada

No ocre das folhas caídas

Por não quererem ser mais vivas

Despojam-se da matriz da árvore.

 

O Outono contempla a Natureza

Pincela de ruivo e amarela os plátanos

E faz tombar no entardecer

A folhagem que já foi verdejante e farta.

 

Mas ainda há tempo para sorrisos

Nas canções dos frutos apanhados

Que transforma em luz o seu óleo divino

Para regar no pão o esforço do trabalho.

 

Acende-se o calor da alma apetecida

Impede-se a Invernia da solidão

Deixando-se escorrer num trago sem sentido

O néctar das uvas fermentadas

E a matança da carne em convulsão.

 

Outono que envelhece a juventude

E pinta as cãs do tempo que já foi Verão

Retrato da existência que nos acompanha, sempre

No reflexo da metamorfose

De todos nós.

 

Noémia Maria

 

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