Mãe Negra.

 

Mãe Negra.

Portuguese
Fotógrafo: 

Atirou-se de joelhos para cima da esteira molhada e suja de lama,
Prostrou-se de mãos juntas e erguidas em sinal de um gesto de desespero e submissão,
Depois de a usarem como lhes proveio,
Marcaram-lhe o corpo como se maraca um boi, tinha um dono,
Do seu rosto escorria-lhe o suor do sol quente que teimava em ficar,
Colocaram-na nos campos de algodão, desde a hora em que o galo cantou bem cedinho,até a luz que a queimava por fora e por dentro se esconder,
era uma escrava,
Soluçava pelo que ainda estava para vir,
No chão a raiz de uma marca lembrava-lhe tempos passados,
Uma pegada fossilizada que ali ficara de um seu antepassado,
Chiquita era seu nome,
Há muito que já não se conhecia,
Naquele lugar onde nunca tivera identidade, só lhe restava a esperança de morrer um dia em liberdade,
Quando anoitece, os cães uivam para calar seus gritos de dor,
Teve a triste sina de ser escrava e mãe dos muitos bastardos que pariu,
Chamava-me mãe negra.
Foi assim que o aconteceu com as mil e umas descobertas além-fronteiras,
Um mundo novo, onde as misturas de raças se fundiram e brotaram e de onde e até hoje o racismo floresce em cada dia que amanhece,
Quem semeou esta semente?
Quando no seu corpo ficaram as cicatrizes para contar as muitas histórias que o tempo apaga mas, ficam na pele...

Por: Walter Aguiam

Género: 
Top