E enquanto a água desce
A moça mexe,
De pavor e vapor
Exaltam-se-lhe hormonas, rubis e esmeraldas.
Dos ouvidos a cera cresce-lhe
E pêlos em terrenos baldios.
O céu rebenta azul no cimento
Gravidade contorcendo realidade
Sonhos de uma noite algoz
Cruel suave tinto vinho
Drogas de estranha piedade
O que eu digo
É insignificante
O que eu ouço
Faz parte de mim
Não foi à toa
Nasci assim
Cresci à balda
Noites afim
Perdi as chaves
Na espera de melhor,
Eles esperam na chuva.
Parados e brotados da terra,
De boca aberta na merda,
Continuam na espera.
E o carrasco passa, de brilho no fato
Um dia brilhante, mas a noite cai cedo.
Na cama deitado, fumo e percebo:
Os animais voltaram.
Lá fora rugem, gritam e sopram.
E lá estava,
sorridente e corado, no banco do jardim.
Ela pensava:
quem é este palhaço de Adão?
pensava eu.
Como idiota,
ou romeu,
Sentado num banco,
bêbado no bar sentado.
Vejam lá o meu estado:
Roubado, fodido,
e pior que tudo
Esquecido;
Não faço ideia do que me trouxe aqui.
E com os olhos chegam-se perto.
Ao longe não queima,
essa culpa, não sentida é certo,
mas que por dentro teima
e enche o vazio e aumenta o espaço