Vidas

 

Vidas

Português

João César Sousa Serra de Carvalho
Titulo: Vidas

SEM ABRIGO

Estava dia e o sol se abria
Ar profundo e tu corrias
Meu maroto no meio de trapos
Tão inocente como ninguém,

Estava tarde e já sentia
Tão bruscas caiam me lagrimas
Mais um de muitos que fui
Traídos pela desassombrada vida
Tão ingrata que ninguém via,

Estava noite e mal dormia
O céu escuro e mal te via
O som a luz a sombra dormiam
Noite fria calada por ti
Crescias homem meu filho minha luz

João César Sousa Serra de Carvalho, in amor de Pai

AMOR INFINITO

Tu, sim tu
A tua beira feira se fazia,
Borda às voltas do mundo fazias,
Rapaz da esquina da rua do Zé da Mina
Que mal me vias mais sentias,

Tu, sim tu
Rapaz do alto da colina
Do Moinho ronco afinado à melodia
Levava-te comigo o sol se abria
Roubaste-me o sonho de ser sempre tua,

Tu, sim tu
Rego-te com lagrimas mulher de quem se foi
Dos sonhos que vivemos amor infinito
Viúva do sonho incompleto,

João César Sousa Serra de Carvalho in o sonho da viúva

PESO DE CONSCIÊNCIA

Naquela noite de chuva miúda, um anzol nas entranhas do mar soberbo
Enquanto arrastavas-me pela correnteza, um vulto nas águas de madrugada?
De menos duvidei, e tão pouco tu de mim?
No olhar trazias lembranças minhas (não duvidei)
Tão intensas que o mar parou brusco,
Teus cabelos brancos voavam dispersos, refilavam ao vento
Vinhas descalço devagar com mestria
De tão assustado debrucei de pé sem poder respirar
Mas eras afinal aquele Senhor, que muito afamado pelas mãos, agarraste-me,
Tão perto reconhecia-te rosto justo desfigurado
E num ápice sorriso devolveste me ao mar
E sem te despedires foste embora,
Sei que me encontrarás nessa gula incessante, tão seguro que envaideço dizer
Que as tuas mãos são a tua consciência.

João César Sousa Serra de Carvalho in o Pescador

PRESO

Terra aguada semblante distorcido
Quem és?
Aquele que sempre foste
E Demora a hora, trauma de vida fácil,

Buscaste e cantaste, água do rio salgado
Devoto e escroto, paz de guerra fria
Quem és?
O preso do agente Mia
Correste o risco e foste embora,

Andaste e tocaste, pó que sempre foste
Poroso humilhante, terra de gente fria
Quem és?
Do que viu a mira, perdeu o susto
Hora morta, morte certa.

João César Sousa Serra de Carvalho, in a morte do preso.

MORTE DO PARDAL

Pezinhos ladeando janela do tempo
De manha de tarde sem hora sem medos

Zangado cantavas sereno e calmo que me levantava a ouvir
Tão surdo de me ter habituado
Teus coros de bico moderado, meu porto de hora certa
E agora quem me vem assobiar?

No bico trazias pão do beco
Tão seco de dias e noites
Do homem do bar da viela, ainda por lá te vejo passares
Caminhas devagar de salto em salto, nos sonhos que trago em mim,

Espero que voltes ainda assim
Tão perto que te oiça dizer
Sem mágoas e pena de mim
Cá estou cá me tens, de lagrimas perdido no teu aconchego.

João César Sousa Serra de Carvalho in volta pardal

VIAGEM NO TEMPO

A estrada é uma casta, tão farta que se levanta
Cospe fogo dragão marmoto, tão honesto e mentiroso
Se me veres deixa-te passares,

A ponte é como a fonte, tem fonte não tem morte
É sorte de alma morta, nunca passa nunca cria
Se me veres fica à sina

A corte é uma estrada, trás cortejo trás desgraça
Tem um dedo e muitos braços, uma mão em cada esquina
Se me veres sou de lá

A mente é como a gente, tão pendente tão distante
Cada traça cada metro, um quilómetro mil paisagens
Se me veres trás me a foto.

João César Sousa Serra de Carvalho in autoestrada da vida

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