A Vida do Velho

 

A Vida do Velho

Português

Depois e vários dias de chuva intensa finalmente o sol aparecera e com ele o sorriso no rosto das pessoas, a satisfação de estar ao ar livre e sentir a brisa fresca e o calor do sol penetrar a pele. Por estas tão justificáveis razões, resolvi pegar uma cadeira e leva-la para a porta de casa, me sentar e aproveitar o dia maravilhoso que reinava.

Estava do lado de fora fazia alguns minutos quando vi passar pela rua, o seu Antônio, um dos meus vizinhos, cumprimentei-o alegremente:

- Oi, seu Antônio, como vai?

Ele não me respondeu, sua surdez não permitiu que ouvisse minha pergunta. Comecei a refletir... A morte parece ter se esquecido de vir buscar aquela cansada alma que permanece trancafiada dentro de uma carcaça velha e deteriorada.

Seu Antônio é um homem bom, generoso, durante toda a vida estendeu a mão aos que dele necessitara, sem julgar nem discriminar não escolhia a quem ajudar, seu único critério de seleção era a necessidade do sujeito.

Agora, no fim da vida, seu Antônio passa pela rua como quem passou pela vida. Vagarosamente vagueia, como quem aparentemente anda sem rumo, mas que sabe exatamente onde vai chegar. A rua é a metáfora da vida, por ela Antônio passa... e vai embora. O fato de ele passar rapidamente ou devagar, ficar ali parado ou nem sequer por ela passar, não alterará em nada a sua existência, suas características, sua solidez. Ele passou e a rua do mesmo jeito que antes estava continuou. Talvez ele tenha mudado algumas pequenas pedras de lugar com os seus pés fracos e incertos, mas isto ninguém notará.

Quando seu Antônio morrer as velhas da rua irão exclamar um pouco perplexas: “um homem tão bom...”. Mas, enfim, não depende da bondade das pessoas, não depende do que elas façam ou deixem de fazer, impiedosamente a morte virá.

Seu Antônio passa pela rua como quem passa pela vida, discreto, insignificante, visto por poucos e, depois da sua morte, esquecido por todos. De que vale uma vida inteira? De nada vale quando se é apenas mais um “bicho da terra tão pequeno”.

Todos não passamos pela vida como quem passa pela rua. Alguns são lembrados pelo enorme dano que causou a rua, outros pela incrível melhora que trouxe a ela e milhares, milhões de outros não são lembrados por coisa alguma, são simplesmente esquecidos por nada de relevante terem feito.

Enquanto isso, seu Antônio bebe um chá solitariamente a espera de que a morte se lembre de vir busca-lo da mesma forma que se lembrou da sua mulher há tanto anos.

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