Nestes dias, é-me consentido gritar, chorar longas horas, rir…dizer tudo quanto o bom senso não é! Deambular nas ruas, estranhando toda a gente. Ser só. Estar na companhia dos homens - é belzebu quem não respeita os sete dias de luto da viúva…desse dia adiante, logo se verá! Mas isso agora não interessa…Porque sou viúva e tenho um pé na terra e outro no céu. Um pé no céu que eu não vejo. E ninguém vê. E se há quem sinta, eu não sei o que dizer desse meu pé…Está no céu! Segue os passos do meu marido…Ou será já o meu ex-marido?
Não interessa…Há que espairecer…
«Há que espairecer!» dizem os padres e o povo em uníssono…O que ninguém sabe é que o morto não me custou tanto como as penitências que fui fazendo ao longo da vida! E é tudo quanto seja a minha vontade!!! Desde que o defunto, outrora cheio de vícios e em tudo igual a nós, seja tido por santo, ninguém me diz nada! É que ninguém me diz nada!
Ninguém diz nada…Assim, gozo da luxúria que me cabe no bolso e das tentações que a juventude paga. Só não compro o porco ao povo, de resto, toda a carne me entra em casa! E ninguém me diz nada! Quem sabe, cala-se…Parece que quando a alma se vai, a dor é do mundo; quando subsiste o corpo, ela é do mesmo e de quem a quiser.
E desta viúva é de quem ninguém diz nada!!!
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