Estava cursando o primeiro ano de Belas Artes e costumávamos ficar no campus da universidade o dia inteiro. No horário do almoço, íamos almoçar no barzinho da agronomia, que ficava em frente ao prédio da nossa faculdade. Uma amiga sempre me acompanhava e um certo dia ela me disse: Dedé (era como me chamava),tem um cara lá no barzinho que sempre te olha quando vamos almoçar. Eu disse a ela que não havia percebido. Então ela me disse que ia me mostrar, na próxima vez que fossemos lá. Fiquei curiosa para saber quem era. No outro dia, quando chegamos ao barzinho, ele ainda não estava lá. Minutos depois, ele chegou e sentou-se na bancada do bar bem à nossa frente. Foi nesse momento que o vi. Os olhos azuis eram belíssimos e quando nossos olhares se cruzaram, eu paralisei totalmente. Se ele viesse falar comigo naquele momento, não saberia o que dizer. Fiquei sem ação. Apenas nos olhamos de longe, nos dias que se seguiram. No final de semana, como era costume entre os universitários, fomos à boate da universidade. Esperávamos a boate abrir quando o vi chegar. Ele também me viu, mas não se aproximou. Fiquei nas nuvens, pois sabia que aquela noite seria especial. Sentei-me a uma mesa com as amigas e sabia que deveria ficar esperando, pois sentia que a qualquer momento, ele viria me convidar para dançar. Não demorou muito e ele chegou. Dançamos a noite inteira, como se não houvesse mais ninguém a nossa volta. Era só ele e eu. E dançamos a noite inteira sem parar. Parecia que nos conhecíamos a vida inteira e precisávamos falar tudo o que sentíamos. Quando nos despedimos, no portão da minha casa, ele me beijou. Foi a sensação mais maravilhosa que já havia experimentado. Tinha a sensação de flutuar no ar e que o mundo girava loucamente ao meu redor. Vimo-nos muitas outras vezes. Ele estava se formando em agronomia e me disse que precisava voltar para o estado em que sua família morava. Eu sabia que o tempo estava se esgotando. Sabia também que ele não queria me enganar. Ele me contou que havia prometido voltar e se casar com uma mulher que o esperava há muitos anos. Eu queria continuar a vê-lo até o último momento, mas também não queria que ele tivesse pena de mim, quando fosse se despedir. Então escrevi uma carta para ele (naquela época não havia a facilidade da net) e disse a ele tudo o que sentia e o que temia. Ele me respondeu dizendo que não queria me enganar, que mais uma vez tentara amar, mas que não era merecedor do meu amor. Guardei a carta por muitos anos. Encontramo-nos dez anos depois e ele ainda estava solteiro. Depois disso, nunca mais soube dele. Procurei por ele no Google e só encontrei pessoas de mesmo nome. Nenhum era ele. Até que a poucos dias, resolvi pesquisar diferente. Eu estava acrescentando uma letra a mais no nome dele. Quando digitei o nome correto, lá estava ele: nome completo, endereço, telefone, morando no mesmo lugar onde dissera que morava. Só tinha um detalhe: estava casado e eu divorciada...
Débora Benvenuti
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