Na calada da noite, deitada no sofá, revendo o dia, contando as horas tentando sonhar, percebo um murmúrio. Caprichoso, convicto, derruba-me o espírito e na espiral depressiva contemplo o meu martírio.
As horas desperdiçadas, as palavras lançadas ao vento sem audiência, a paciência inocente e fútil. O nada de tentar mudar o mundo. No fundo, sabia-o eu desde criança, que os olhos têm mais fome que a barriga, mas tentando mitigar o preconceito tentei dar um jeito de negar o óbvio.
Corrupto, sem escrúpulos, banhado em dinheiro revejo o tio patinhas, nos quadradinhos de miúda. Naquela época não percebia a verdade que nos era contada de forma matreira, pela calada, dissimulada de banda desenhada.
Naquela manhã serena e saudosista da infância sonhava. Tola acreditava. Nas palavras dos adultos e dos políticos, nas palmadas que levava, na razão que era ser livre!
Livre para ser mais, para ir para além de mim, mudar... mudar o quê? A maré é forte demais... Tola de mim. Gastei as palavras num mar de peixes, e hoje vejo o cardume seguir o tubarão.
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