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Dizem que muitas pessoas sentem a proximidade da morte e eu presenciei esse acontecimento com a minha mãe. Ela havia sido operada duas vezes e estava se recuperando muito lentamente. Ela morava comigo e um dia eu precisei sair e a deixei junto com a enfermeira que cuidava dela. Quando voltei, a enfermeira me contou que ela estava delirando. Falava que era preciso fechar a porteira porque o gado estava fugindo. Achei muito estranho aquela afirmação, mas não contestei, porque aparentemente, ela estava bem. Mais tarde, quando estava conversando com ela, ela me disse que ia morrer. Eu fiquei sem saber o que dizer a ela, mas afirmei que ela não ia morrer, que estava apenas se recuperando da cirurgia, mas ela continuava a insistir naquela assunto. Então eu disse a ela que eu também poderia morrer a qualquer momento, não precisava estar doente. Fizemos então uma brincadeira. Combinamos que quem morresse primeiro, viria contar a outra o que havia do outro lado. Ela concordou e achou graça. Me disse que eu não me assustasse, se ela aparecesse depois de morta. Dois dias depois ela faleceu. A pressão dela estava muito baixa e eu chamei uma ambulância e a levei ao hospital. Lá ela foi medicada e eu chamei a enfermeira dela para que ficasse com ela durante a noite e se ela precisasse, me chamasse. Disse à minha mãe que a buscaria na manhã seguinte. Ela ficou me olhando com um olhar que nunca mais esqueci. Foi uma despedida silenciosa. Alguma coisa me dizia que eu nunca mais a veria com vida. Aquela velha intuição que sempre me acompanhou. Havia alguma coisa na enfermeira que cuidava dela que me desagradava. Por várias vezes pensei em mandá-la embora e quando voltei do hospital, decidi que a mandaria embora na manhã seguinte. Quando contratei a enfermeira, havia entrevistado outras tantas, mas essa em particular, me disse que sabia cozinhar também. Então a contratei, mas a encontrei um dia em que voltei mais cedo para casa, fazendo a mãe comer sem a dentadura dela. Isso machucava as gengivas dela, mas ela nunca se queixou. Passei a noite toda procurando na minha agenda outra enfermeira para a substituir. Às quatro horas da manhã, me telefonaram do hospital me dizendo que a minha mãe havia falecido. Sai correndo com os meus filhos e fiquei sabendo que ela havia me chamado muito, antes de falecer. Eu fiquei em estado de choque, sem saber o que fazer. Estava longe dos meus irmãos e teria que fazer o translado do corpo até a cidade onde ela desejava ser enterrada. Não sei como consegui dirigir por quase 400 km até a cidade dela. A enfermeira quis acompanhar e eu deixei. Na viagem, ela me disse que a mãe havia dado todos os pertences dela para ela. Achei muito estranho aquilo, mas se ela havia dado, eu teria que cumprir com o último desejo dela. Mas percebi uma certa estranheza quando fomos separar a roupa que ela ia usar. A enfermeira não queria que eu colocasse uma roupa nova e nem sapatos. Insistiu tanto, dizendo que ninguém mais usava sapatos, que eu aceitei a sugestão dela.
Algum tempo se passou. Uma tarde, eu estava sozinha no meu cyber café, lavando a louça que seria usada mais tarde. De repente, eu percebi um par de pernas passando da sala dos computadores e atravessando a parede do banheiro. Aquelas pernas estavam sem sapatos. Eu logo percebi que era a mãe. Então, corri até o local onde a tinha visto passar, me ajoelhei e fiz uma oração por ela. Mais tarde, contei para os meus filhos e eles me contaram que tinham visto a mesma coisa. Minha filha disse que havia visto um par de pernas, sem sapatos, entrando no quarto dela e o meu filho menor, repetiu a mesma coisa. Chamei um vizinho que era espírita e contei para ele. Ele me disse que ela precisava de orações e que iria orar por ela. Depois das orações, ninguém viu mais nada.
Débora Benvenuti
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