Presságios

 

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Meu avô foi um grande contador de estórias. Ele reunia os netos todos ao redor dele e nos contava estórias de assombração. Uma noite, em que estávamos ouvindo um destes “causos”,no momento em que ele dizia que alguém batia à porta, ouvimos três “toc-toc”. Pensamos que fosse o nosso avô que havia batido na mesa, sem que percebêssemos. Mas em poucos segundos, ouvimos novamente as mesmas batidas. Meu avô pediu que alguém fosse ver a porta, mas nenhum de nós quis ir. Ficamos nos olhando, apavorados e dizíamos uns para os outros: vai você e o outro dizia: eu não e assim um empurrava para o outro a difícil façanha de abrir a porta. Os toques se repetiam e então eu fui, pé ante pé, espiar  pela cortina da porta. Era uma assombração...? Claro que não. Era apenas o noivo da minha tia que vinha buscá-la. Respiramos aliviados. Mas na hora de voltarmos para a casa, foi uma correria só. Todos apavorados com as estórias do avô. Muito tempo depois, minha mãe nos contou que meu avô era vidente e que todas as estórias que ele nos contava, eram verdadeiras. Na época em que ele trabalhava, havia exercido a função de delegado de polícia e em muitas noites, precisava sair para resolver algum problema. Ele nos contou que certa vez, em uma noite muito escura, ele passava em frente ao cemitério e viu um homem montado em um cavalo branco, sair e o acompanhar por um longo tempo, sem nada falar. Cavalgava ao lado dele. Depois, em uma encruzilhada, o cavaleiro desapareceu. Desde essa época, que eu sou apaixonada por estes contos de mistérios. E acredito que tenha herdado dele, não a vidência, mas a sensação de que algo está para acontecer, sem que ao certo eu saiba o quê. Tem coisas que eu gostaria de fazer e não faço. Mesmo sabendo que precisava fazer. Tive essa sensação várias vezes. Ao me despedir da minha mãe, que ficou hospitalizada na noite em que faleceu, eu quis dar um beijo nela, mas não consegui. Apenas disse a ela que viria buscá-la no dia seguinte. Vi alguma coisa nos olhos dela, que me deram uma estranha sensação. Algo que eu não queria interpretar, mas lembro até hoje e me arrependo de ter negado a ela esse gesto tão simples. Apenas toquei nas mãos dela ao me despedir. No outro dia, fui buscá-la, como havia prometido, mas foi apenas para acompanhá-la até a sua última morada. Algum tempo depois, eu estava na cozinha do meu Cyber Café, e tive uma estranha sensação: olhei para o lado e vi dois pares de pernas, do joelho para baixo, descalços, passar de uma sala e atravessar a parede do banheiro. Eu sabia que era ela, porque havia partido sem calçados. A enfermeira que cuidava dela, insistiu que não era necessário. Pois ela me apareceu assim, para que eu soubesse que era ela. No mesmo momento, me ajoelhei onde a vi passar e fiz uma oração por ela. Contei para os meus filhos e eles me disseram que também tinham visto a mesma coisa. Pedi a um médium que a incluísse nas orações e depois disso, nada mais eu vi. Mas fiz a mesma coisa com o meu ex-marido. Ele viera para a formatura da nossa filha e na manhã em que foi embora, do meu quarto eu ouvi ele dizer aos meus filhos que me deixava um beijo. Eu não sei por que não quis me levantar e me despedir dele. O fato é que dois meses depois, ele também se foi. Mas sei que está por perto e quer me dizer alguma coisa, porque várias vezes o ouvi falar ao meu ouvido, não quando estou dormindo, mas naquelas horas vazias da noite em que se ouve só o silêncio. Senti essa mesma sensação, quando perdi meu irmão. Éramos muito unidos e durante vários anos eu senti a mesma coisa que ele sentiu, quando teve um ataque cardíaco.
No exato momento em que ele partiu, eu estava em frente a um espelho, no quarto da minha mãe e percebi que o quarto havia ficado gelado, de repente. Olhei o relógio dele, que estava em cima da cômoda e vi que havia parado às 11 horas da manhã. Alguns minutos depois, tocaram a campainha para avisar que ele havia partido. Muitos anos se passaram, até que eu entrei em contado com uma senhora que psicografava mensagens. Ele me deixou uma mensagem muito bonita, a qual eu publiquei, em vídeo também e chamei de “Mensagem de Adeus”.
Depois que li a mensagem e soube que ele era meu anjo protetor, aquela sensação de que alguém tocava o meu ombro, nos momentos em que estava só, nunca mais aconteceu.
 
 
 
Débora Benvenuti
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