Pedrada, uma galinha estouvada!

 

Pedrada, uma galinha estouvada!

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Pedrada, uma galinha estouvada!

Este bicho especial de penas pedradas é dificilmente identificada por falta de nome concreto, apesar de por muitos outros apadrinhado. Aparentemente poderia isto não ser um problema, mas é! Fartos estamos nós de estar rodeados de gente anónima de conteúdo, daqueles que falando muito nada dizem e do pouco que se percebe nada fazem, por isso facilmente se alcança o mal que isto pode fazer a esta carne tão afidalgada.

Esta de que vos vou falar é estouvada, não de nome nem de conduta, porque de nome se veio a optar por Pedrada e quanto à conduta, essa é irrepreensível, das tais com que se pode sempre contar. Essa história do "estouvada", nada tem a ver com o conto por isso por aqui vamos ficar.

Esta galinha tão especial, a Pedrada, nasceu de um acontecimento notável. Qualquer acontecimento, para ser notável, tem de nascer na mesa, que ao fim ao cabo foi o começo e será o fim. O que tornou este ato tão especial, é que na mesa, para além do bom vinho e da boa bucha, havia e ainda há, porque mesas destas não se perdem, perduram sempre cá dentro, bons amigos.

Quando momentos destes se dão em ambiente tão apropriado, só poderia resultar num acontecimento tão notável. Por serem momentos tão especiais é que se mantiveram e se irão manter em absoluto segredo, por isso, e se quiserem saber mais, terão que os imaginar, como se as crianças o tratassem de sonhar.

Esta história nasceu por saudade e por um princípio. Por saudade por que já dez anos passaram sobre a primeira e por princípio, porque nada de tão apaladado deverá ficar tanto tempo guardado.

Mas para vos aguçar o paladar, porque isto do paladar nem só quando passa pela goela é que é sentido, vou-vos dar mais umas pistas das tais de sonhar. Tem nome e estatutos, esta organização, chegou até a ter cartões, dos que se levantam no momento da decisão, uma Pedrada no tacho, devidamente temperada e cozinhada por Ele e rodeada dos tais que já falámos, dos tais do peito dos mais entranhados.

Para abreviar e antes de começar, teremos que a descascar e limpar. O partir dependerá do número dos que a vão apaladar. Histórias destas fazem-nos sempre dispersar, mas esta do "apaladar" vou mesmo ter de vos contar. Obviamente que este apaladar se refere à companhia que vamos arranjar para à mesa se juntar. E são efetivamente estes da mesa, que dão o tal paladar tão especial ao manjar.

Qualquer boa história, destas de comer e chorar por mais e independentemente da idade e da quantidade de cores, começará sempre, ou pelo menos quase sempre, por largar azeite num tacho. Depois de lhe sentirmos o cheiro, o tal naco de toucinho, de porco preto salgado e também do fumado, lhe devemos juntar.

Nesta história em particular, resolvemos inverter a ordem para tentar criar um certo afogo, por isso não há os tais poses a libertar os óleos nem nada, mas esses já vos vou contar. Depois de alourado, o toucinho salgado e o fumado, que é como quem diz, depois de ficarem a estalar, deverá se lhes juntar a Pedrada e só ela. A ideia desta manobra tão requintada é fechar-lhe os poros para não deixar sair o que de melhor lá dentro tem. Aí a devemos deixar o tempo que for suficiente, sem pressas nem nada.

Como já devem ter percebido, esta é uma história de 3 atos, o primeiro já foi, quanto ao segundo, esse é fácil e rápido, é só juntar os sólidos todos que conseguirmos encontrar, no tal caldo que mais à frente vos vou ensinar. Por fim o terceiro e último ato, apesar de natureza aparentemente simples, é sem dúvida o mais complexo e delicado de todos, é que dos sucos estamos a falar.

Este suco é como se de um velho amigo se tratasse, daqueles que dão o que podem e sabem, e que recebem o que de melhor nós temos para lhes dar, daí a sua importância tão fundamental neste processo. Terá por isso que ser acasalado com carinho, depois dos tais sólidos se terem afeiçoado à carne, que é como quem diz, de ali todos terem passado juntos, bons e descansados momentos.

E pronto, é como se a história estivesse acabada, porque agora é só esperar, com calma, como se não se soubesse que esta em particular foi feita pelos tais de lá do Tejo, mas dos tais bem lá do fundo, onde o tempo queima só de pensar, quanto mais de labutar.

Mas obviamente que este conto não ficaria completo, nem mereceria tão grande obsessão, se o tal meio não fosse relatado.

Acomoda-se com a tal Pedrada e por cada uma, partida em função dos tais que a vão apaladar, uma série de outros amigos destas coisas, não tão importantes que esses de apaladar, mas obviamente irmãmente necessários. Teremos assim que juntar três cebolas em rodelas, quatro dentes de alho cortados em fatias grossas, três folhas de louro, pimenta, piripiri conforme se goste, uns pozinhos de cominhos, quatro cravinhos e um ramo de cheiros de salsa e coentros. Depois de todos estarem juntos, envoltos e bem acondicionados, é juntar o sangue que dá gosto à vida, que é como quem diz o vinho tinto.

Quanto ao vinho, muita coisa haveria para dizer, mas como a história já vai longa, o melhor é simplificar e isso quer dizer que teremos que juntar vinho do bom, isto até as tapar. O toque especial vem a seguir, porque qualquer comida que se faça com paixão tem sempre de ter um toque especial, nem que seja o nosso. Mas esta em particular e para além do nosso, teremos de lhe juntar uma boa meia garrafa de vinho do porto, o norte e o sul. Este sul queimado do sol, dos bons vinhos, ou melhor, dos melhores vinhos e o tal lá de cima. Este último irá conferir um sabor adocicado e queimado, como do sol se tratasse.

E pronto meus pequenos amigos, assim vos deixo, porque aos meus apaladados me irei juntar, para deste manjar desfrutar.

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