Os passarinhos sem penas

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Esta é uma das razões pela qual tenho pavor de um certo animalzinho!
 Como disse, o 2º piso do quartel não tinha divisões, era um sótão enorme onde se amontoavam caixotes de madeira, não sei com o quê, pois estavam fechados e pregados com pregos para ninguém mexer. As outras coisas estavam por ali encostadas às paredes ou no meio em montinhos. Como eu adorava remexer naquilo tudo! No entanto, só me lembro de umas bandejas redondas a imitar prata mas não eram pois mais tarde, a minha mãe teve uma dessas bandejas, a qual enferrujou toda com o uso. Num dos dias em que a minha mãe e a mãe do filho do capitão, a vizinha, tomavam chá juntas na casa do capitão, nós três: eu, minha irmão e o nosso amigo, como sabíamos que os guardas à noite iam para o telhado do sótão apanhar passarinhos para comer pois o telhado não tinha forro, resolvemos ir também apanhar passarinhos para que os guardas não os comessem. A minha irmã tinha medo de bichos, eu desde que fora picada pela abelha também não me atrevia a mexer em nenhum (lembrei-me agora do nome do amigo) o "Zé Manel" era quem iria pegar neles. assim foi, o certo é que apanhámos 2 ou 3 passarinhos tão pequeninos e sem penas que o Zé Manuel segurava entre o indicador e o polegar fazendo com os dedos a forma de um O e apertava os pescoços para eles não fugirem.
 Muito satisfeitos com o resultado, fomos a correr ter com as nossas mães para guardarem os passarinhos e assim os guardas não os comerem. Mal elas nos viram chegar perto, saltaram das cadeiras aos gritos e disseram para o miúdo largar os bichos. Ele largou e as mães não sei o que lhes fizeram, só sei que foram a correr lavar-nos as mãos. Zangaram-se muito e pela primeira vez ouvi o nome osgas. Tínhamos apanhado osgas pequeninas.
 Ainda hoje tenho pavor destes animais que pelos vistos não fazem mal mas dos quais ouvi contar em miúda, histórias terríveis.