O Silêncio se manteve calado durante muito tempo e mesmo o Tempo, seu melhor amigo, se sentia incomodado com aquela situação. O Silêncio se tornara tão pesado, que não mais conseguia andar. Ficava horas a fio tentando se reerguer e dizer alguma coisa, mas ele mesmo sabia, que sendo silêncio, nada podia dizer, porque ninguém o podia ouvir. Pensava no que poderia dizer, se alguém o pudesse ouvir. Mas quem teria tempo para ouvir o Silêncio, se nem mesmo o Tempo tinha tempo para ouvi-lo? Ficava apenas passando de lá para cá, sempre muito ocupado, sem tempo até para ele mesmo. Mas o Tempo sabia o quanto o Silêncio sofria com o seu próprio silêncio. Às vezes pensava em dizer alguma coisa ao amigo, mas logo se desencorajava, pois seu tempo era muito precioso e precisava passar, para que ninguém percebesse que ele estava a pensar no que faria, se decidisse deixar de passar. Ficaria igual ao Silêncio, tão pesado que precisaria de cordas para que pudesse passar? Pensou nisso durante muito tempo e percebeu que alguém inventara um modo de vê-lo passar. Penduraram o Tempo na parede e ele ficara ali calado, ouvindo o som do seu próprio silêncio a lhe pesar nas pernas, onde lhe colocaram pesadas correntes que subiam e desciam, fazendo um som estranho no silêncio que se prolongava ao passar das horas. Sentiu-se tão pesado quanto o seu amigo Silêncio, com a única diferença que agora ele podia quebrar o silêncio com o seu tic-tac, que mais parecia um soluço ao passar das horas que ritmavam o seu próprio tempo. O Tempo de passar....
Débora Benvenuti
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