O meu primeiro beijo de língua, foi numa noite fria de inverno, perto do natal, na escuridão da lua nova, sem música, sem estrelas, sem chuva...sem distracções, com os sentidos apurados.
Apoiados numa janela de cozinha, com vista para o escuro intenso, sem lua de romance e música ambiente, só tínhamos uma única luz, a do tecto meio amarelado do passar dos anos.
Ríamos e brincávamos com as sombras chinesas que fazíamos no reflexo sem horizonte da luz branca.
Enquadrávamos as quatro mãos e projectávamos diversos bichos ainda não catalogados pela ciência dos seres possíveis na natureza. O toque das mãos dele, ainda hoje sinto, pareciam lençóis de cetim amornados pelo amor, apesar do frio das minhas mãos inseguras e ainda envergonhadas por tanta cumplicidade.
Houve um momento embaraçoso de silêncio, quando reparámos nas nossas próprias sombras reflectidas na luz trémula que incidia no negro da lua nova. Duas figuras, que se tocavam com os ombros, de cabeça encostada e mãos dadas. Tentávamos ver os nossos perfis para ver qual nariz era maior, olhando de soslaio para o nosso reflexo que tremia na luz reflectida. Sentia-me a aquecer, sem perceber de onde era a fonte de calor. Foi quando vi os seus lábios tão perto dos meus e recebi um quente e desejável ar que saía da sua boca entreaberta, perto dos meus lábios frios. Uma sensação de prazer percorreu a minha pele, senti como se mil borboletas quisessem escapar do meu estômago. Levantei o olhar na sua direcção e com surpresa, vi os seus olhos, estavam brilhantes e serenos, a pedirem-me permissão para me beijar. E sem nome para descrever aquilo que sentia, sorri e encostei os meus lábios nos deles, com inocência, como tinha visto fazer nos filmes, mas a língua dele veio à procura da minha e sem saber o que fazia, deixei-o conduzir o beijo, Entreguei-lhe a minha língua, e ele, colocou uma mão na minha cintura, senti-o quente através da roupa, apertou-me ainda mais, colocou a outra mão na minha nuca e beijou-me com todas as certezas de primeiro amor. Nem em sonhos de adolescente apaixonada por cantor célebre, tinha imaginado tal sensação, todos os sentidos se apuraram. Sentia o bater apressado do seu coração, quase audível, encostado aos meus seios arrepiados, a minha respiração aumentou, deixei de sentir frio, para sentir um calor entre pernas que me aquecia o corpo todo. Experimentei a explosão de desejo no seu estado puro, a excitação dada por alguém pela primeira vez. O meu primeiro beijo de língua......
Relembro como se fosse agora, ensinou-me a dar nome ao desconhecido, um beijo de sabor, um beijo de língua, um beijo puro, inocente, e o desejo inebriante de querer mais. E eu, agradeço-lhe por isso.
Será que ele ainda se lembra?
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