O Jogo

 

O Jogo

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-O Jogo-

 

Tinha pensado passar aquela tarde no quarto, talvez à secretária a tentar escrever. Mas a verdade é que o ser extremamente calão, que sou, dizia-me que ia era dormir.
Assim foi, até por volta das quinze horas quando senti baterem à porta.
- Quem é? - resmunguei eu no meu habitual mau acordar.
- Abre filho, é teu pai.
O meu pai? pensei. Imaginava-o a jogar à malha lá para os lados de Sintra, mas a voz amistosa fez-me abrir a porta.
Espanto inicial. A minha cara de peixe que quer falar e não sabe que debaixo de água é impossível.
Era Deus, senti pela aura iluminada e pelo B.I. . Não tive tempo sequer de engolir o espanto pois bateram outra vez.
- Quem é ? - voltei a dizer olhando de esguelha para o Bendito.
- Abre filho, é teu pai.
- Ora esta, outra vez? - mais uma vez a voz amistosa e ... bom... pois, abri a porta.
Loucura, supus, agora fui de vez.
Era Buda, e não era a reencarnação, era Buda, o original, ou pelo menos devia pesar tanto como o Bendito das figuras, talvez mais queimado pelo sol.
- Toc, toc, toc!!!
Dei um NããHH!! prolongado e perguntei.
- Não me digam que é o meu pai?
- Isso, vais ter que perguntar à tua mãe.- Disse alguém num tom manhoso.
Não acredito, pensei, que descaramento. A voz não era a de meu pai.
Era mesmo o que me faltava, o Diabo em pessoa. E como é que sei?
Bom, começando pelos cornos e acabando nos cascos creio não haver dúvidas.
E a minha tarde já tinha ido para o galheiro.
Preparei-me para a grande revelação que obviamente iria ver e ouvir ... - Toc, toc, toc!!! 
- E agora, é o fotografo para a foto de família?
Não era, era meu pai.
Deu-me a malha para a mão e tirou do bolso com avidez um baralho de cartas, olhando por cima do meu ombro para onde os Benditos e o Maldito preparavam a mesa para uma Bisca.
Saí do meu quarto e fui dormir para a sala a pensar onde se iria sentar o Monge grandalhão e quem seria o parceiro de meu pai.
Na Bisca o silêncio é de ouro.

Rui Henriques

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