O estranho do metro

 

O estranho do metro

Português

O estranho do metro

Ela entrou e sentou-se. 
Á sua frente um estranho entre tantos outros sentou-se e sem querer os seus olhos cruzaram-se.
Um sorriso tímido entre ambos.
O estranho olhava-a mesmo não querendo. Pegou no jornal, abriu-o e disfarçou o seu olhar entre as folhas, mas os seus olhos acabavam sempre por encontrá-la. Era mais forte do que ele.
Ela percebeu.
No rosto dele havia a expressão de quem queria perceber a mulher que estava á sua frente, a curiosidade, mas o interesse que não o deixava ler o jornal nunca foi maior do que o respeito que o impediu de se dirigir a ela.
Ela percebeu. Ela percebia isso. 
Ela tentava não o olhar,mas os olhos cruzaram-se e ela sorriu.
Olharam-se segundos, em um silêncio que dizia  tanto, até ela disfarçadamente procurar algo na mala. Retirou o mapa do metro e confirmou a estação para onde se dirigia.
 Ele percebeu que ela não era dali. 
Ela queria que ele percebesse. Ela queria que ele não se dirigisse a ela, embora ela gostasse que os seus olhos se cruzassem.
Ela sentia que ele a olhava nas pequenas coisas. O estranho que já não era estranho pois seguia-a disfarçadamente com o interesse de quem a está a conhecer. A maneira de olhar, de pegar nas coisas, o modo como olhava para os outros, como ajeitava o cabelo, como cruzava o olhar com ele, como sorriu, como o olhou nos olhos durante dois segundos e meio, como desviou o olhar envergonhada, como corou, como disfarçou a sua curiosidade, como o achou interessante. Este diálogo mudo fez com que deixassem de ser estranhos.
Nenhum dos dois tomou atenção ao caminho. Havia um mundo ali, dentro daquele metro.
O  já não estranho levantou-se para sair. Olhou-a uma vez mais. 
Os seus olhos voltaram-se a cruzar. Ele piscou-lhe o olho com um sorriso bonito e sincero de quem acabou de conhecer e conversar com alguém e tem pena de ter que sair. Na cabeça de ambos soou como " foi um prazer conhecer-te".
Ela sentiu que era cedo para a despedida, mas sorriu mesmo assim. O sorriso dela não era tão sincero.
As portas abriram-se. Ele olhou-uma vez mais e saiu. 
Ela percebeu que ele saiu devagar, pensativo...
Como um impulso agarrou na mala e saiu enquanto as portas apitavam. Ele não se apercebeu. 
Ela caminhou ao lado dele em silêncio uns segundos até que se olharam. Pararam. Ficaram em silêncio.
Ele esboçou um sorriso e disse "-Bonjour"

Género: 
Top