O Espião de Binóculos

 

O Espião de Binóculos

Português

Havia aberto um cyber café para manter os meus filhos adolescentes ocupados nos finais de semana e tê-los por perto. Os amigos adoraram e não saiam de lá. Uma tarde, precisei ir à loja onde havia comprado um celular novo e levei meu filho comigo. Ao sair da loja, recebi uma mensagem de um admirador, com uma declaração de amor que me deixou curiosa. Uma, porque não havia dado o número do meu celular para ninguém. Nem eu mesma tinha decorado o número. Pensei no cara da loja, mas se ele nem me conhecia, por que me enviaria aquela mensagem? Perguntei ao meu filho se ele sabia de alguma coisa e ele se fez que não sabia de nada. Depois de muito insistir, ele me contou que o amigo dele, que morava em frente à nossa casa, pediu o meu número e ele deu. Não respondi a nenhuma das mensagens, mas observei que toda vez que ia trocar de roupa no meu quarto, às vezes em frente à janela, via que alguém me observava com um binóculo. Passei a fechar as cortinas do meu quarto e a fazer o mesmo que ele fazia. Espiava por entre as frestas da cortina para ver se ele estava lá. Uma noite o vi chegar no cyber. Eu estava no caixa e ele se aproximou. Senti uma enorme curiosidade de saber o motivo das mensagens, já que ele era noivo e vinte anos mais jovem que eu. Ele me contou que sentia uma enorme atração por mim e queria que ficássemos juntos. Ele não me era indiferente, mas eu não ficaria com alguém comprometido. Quando eu ia à piscina do clube, lá estava ele com a noiva e ficava a me observar o tempo todo. Depois dele muito insistir, num final de tarde, saí de moto e o convidei a ir comigo. Vimos um lindo pôr de sol e compartilhamos momentos de muito amor e ternura. Quando voltei para casa, decidi que não poderia ter nenhum relacionamento com ele. Algum tempo depois, ele se casou porque a noiva estava grávida. Eu mudei de cidade e uns dois anos depois, soube que ele estava no Rio de Janeiro, fazendo um curso e estava voltando para casa. Mas antes disso, queria muito me ver. Novamente eu disse não, que não podia, que ele agora tinha família. Ele voltou para a esposa e logo depois se separou. Eu nunca mais soube dele. Às vezes lembro de como era bom saber que ele me vigiava com um binóculo...

 

Débora Benvenuti

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