Quando eu tinha uns dez anos de idade, minha madrinha me deu um diário com um cadeado e me disse assim: Neste diário quero que tu escrevas todos os teus sonhos, mas não esqueças de tê-los bem guardados, para que só tu possa lê-los. Parece que ela estava adivinhando que escrever era o que eu mais faria todos os dias da minha vida, a partir daquele momento. Sabendo que eu tinha esse diário, um dia meu irmão me pediu o diário emprestado e eu quis saber o por que desse pedido. Então ele me disse que a professora dele havia pedido a ele que fizesse um diário e contasse tudo o que ele fazia durante o dia. Ele então repetia todos os dias assim: Hoje de manhã, levantei,escovei os dentes, tomei café e fui para a escola. E todos os dias ele escrevia a mesma coisa. Então a professora o chamou e lhe disse que ele precisava escrever outras coisas e ele não sabia por onde começar, por isso queria ver o meu diário. Eu disse a ele que o meu diário era secreto, que só eu podia ler o que eu escrevia. Ele ficou bastante chateado. O tempo passou e eu continuo aqui escrevendo. Acredito que ele deva ter lido algum dos meus contos, pois me disse um dia: tu só escreve besteira. Dessa vez fui eu que fiquei chateada. Ainda preciso contar a ele que não é isso que meus leitores anônimos devem pensar, porque apesar de nunca me deixarem um comentário, lêem tudo o que eu escrevo e é isso que tem me impelido a escrever mais e a nunca desistir de escrever. Mesmo que ninguém nunca lesse, tenho certeza que um dia meus netos irão ler.
Débora Benvenuti
https://colchaderetalhosii.blogspot.com/2021/12/o-diario.html
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