O contador de estórias era um velhinho que possuía muitos filhos e com o passar dos anos, muitos netos. Eles adoravam ouvir as suas estórias, que eram repetidas muitas e muitas vezes, sempre de forma diferente. As estórias que mais ele contava, eram estórias de assombração. As crianças se reuniam o redor dele toda a noite, a espera de mais uma estória. E ele sempre começava assim: Certa noite eu precisava sair a cavalo para resolver uns assuntos num lugarejo próximo de onde eu morava. Eu era delegado de polícia e a cidadezinha onde eu morava era um vilarejo com poucos habitantes. Era uma noite muito escura. Havia uma lua cheia iluminando o caminho. Não existia nessa época luz nos postes das ruas, muito menos nos caminhos que eu precisava percorrer. Enlacei o meu cavalo e fui a trote lento, sempre atento a qualquer movimento. Quando passei em frente ao cemitério, vi saindo de dentro dele um homem todo de preto, montado em um cavalo negro. Usava um chapéu de abas largas, que cobria todo o seu rosto e uma capa comprida que caia por sobre o cavalo. A princípio, não me preocupei, apesar de ter achado estranho o lugar de onde ele tinha saído. Observei que ele ia a trote lento, emparelhando com o trotar do meu cavalo. Ele seguiu em silêncio por um longo tempo, sem nada falar. Quando chegamos a uma encruzilhada, ele desapareceu como se tivesse sido engolido pelo breu da noite. Nesse exato momento, senti um calafrio percorrendo todo o meu corpo. Apressei o cavalo o mais que pude e não olhei mais para trás. Mesmo assim, tinha a nítida impressão de que ele continuava trotando com seu cavalo negro. Ouvia o barulho dos cascos do cavalo desaparecendo no silêncio da noite. Percorri o resto do caminho imerso em meus pensamentos. Perguntei a mim mesmo milhares de vezes o que aquela aparição poderia querer e não cheguei a nenhuma conclusão, já que o cavaleiro negro apenas me acompanhou por um longo tempo e não falou uma única palavra, nem eu perguntei o que ele queria, cavalgando ao meu lado. Cheguei ao meu destino e resolvi dormir por lá mesmo, esperando o dia clarear para poder voltar. Esse contador de estórias era o meu avô e soubemos mais tarde que as estórias que ele contava eram verdadeiras e que ele possuía o dom de ver coisas que as pessoas normais não podiam ver.
Débora Benvenuti
https://ilusoesdeoutono.blogspot.com/2019/02/o-contador-de-estorias.html
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