Jurei a mim mesma não voltar a iludir-me. Não assim, mais uma vez, irremediavelmente. Mas era impossível ficar indiferente e não derreter de amores quando, todas as tardes, os teus olhos doces se cruzavam com os meus, na esquina da livraria.
Aí o tempo parava, éramos só tu e eu. Não existia o resto, não havia mundo para além de nós. Passavas por mim como que uma miragem que os loucos vislumbram em dias de desespero, e eu apenas assistia silenciosamente, sem nada perturbar, com receio que, como por magia, te transformasses em mil borboletas e fugisses pelo ar.
Tinhas um brilho incomparável, ofuscante, e como me encantavas...!
Porém, de um momento para o outro, deixaste de aparecer. Nunca mais saíste da livraria com o saco pesado do costume, repleto de novas aquisições. Nunca mais encontrei naquela rua os teus olhos cor de mel. Senti-me amarga, vazia. Toda aquela quimera se tinha desfeito em pó. Restava-me, só, varrê-lo e desfazer-me dele. (...
Primary tabs
Miragem
Português
Género:
Comentários recentes