Depois de alguns meses, não há um texto corrido, uma declaração demorada em letras. Não há. Se calhar porque nunca foi necessária. Há frases soltas. Há expressões que marcam a nossa história. Mas eu nunca consegui ( nem sei se alguma vez tentei) sentar-me em frente a este pc, ou outro qualquer e escrever sobre ti. “ Não há palavras” é um cliché tão gasto, que julgo que seria uma ofensa sequer ousar dizê-lo. Acabei por dizê-lo agora. Mas sei que não lhe darás importância. Se eu não dou, tu também não darás certamente. Odeio clichés, odeio banalidades. Se calhar foi isso que me fez olhar para ti, naquele dia , naquele barco diabólico e pensar, ou questionar. Podia aplicar-te todos os adjectivos, mas o de banal nunca te serviria.
É possível olhares para alguém a primeira vez ( sim, posso ter-te visto antes, mas só naquele dia olhei para ti ) e conseguir decifrar quase, quase tudo ? A força, a fragilidade. A coragem, o medo. A alegria, a preocupação. Os extremos todos.
Ou , por exemplo, olhares para alguém que acabas de ver naquele exacto momento e teres vontade de a devorar ao mesmo tempo que a queres proteger e ainda nem sabes bem de quê ? E são sentimentos que numa primeira vista muito dificilmente estão associados. Uma coisa é o desejo. Outra coisa é sentires na primeira vez em que aquela pessoa te cai nos braços, que era aquela, a pessoa destinada. Sem “para sempres”, sem essas tangas que a mim sempre me fizeram confusão a vida toda, mas que inevitavelmente agora tu me fazes acreditar que se calhar é possível. E se não for, pouco importa. O importante é que hoje vivo com o meu coração mais cheio. E é com este coração a rebentar pelas costuras , que hoje estou ainda mais convicta de que sempre estive certa. Gostar de alguém é acima de tudo conceder-lhe a liberdade de ser ele próprio em todas as circunstâncias...
Marisa Martins
Comentários recentes