Enfim...

Enfim…
Fui-me na despedida que fiz de mim mesmo,
Segui viagem nesta intrínseca tristeza de pertencer a este mundo,
Enchi a mala de vulgares sensações, tranquei-a e segui sem rumo,
Por todos os lugares onde passei, o cinzento lá de fora tem a mesma cor,
Não vi nada de diferente daquilo a que me acostumei, antes pelo contrário, os mesmos gestos, cheiros, a mesma fome, falsidade, inveja e mentira e até as mortes desiguais… A mesma cor de obstáculos, de batalhas, vitórias e derrotas.
Parti sem olhar para trás, achei que se olhasse, não teria a mesma coragem, quebraria e ficaria com medo de ir à procura desses desafios que julgamos serem os nossos sonhos reais…
Eu já havia feito esta mesma experiência! Mas, foi em vagos pensamentos, onde tudo nos parece novo, belo e fácil! Tal como nos sonhos que idealizamos só para nós.
Lembro-me que via gente bonita, cidades maravilhosas, pessoas boas sorrindo, estendendo a mão ao próximo, um céu azul igual para todos, verdes campos, flores de muitas novas cores, uma casa aquecida, uma linda lareira, uma mesa rodeada de bons e verdadeiros amigos.
Recordo-me que não via mendigos nas esquinas, animais abandonados, vivíamos todos em abundância.
Depois que parti nessa fútil viagem divagada por sonhos imaginados, encontrei o que os meus olhos estavam já saturados de observar e o meu físico cansado de experimentar. Tudo era igual! Vi as mesmas expressões, os parecidos pedintes, a arrogância dos semelhantes e nem quis imaginar como seria os que vivem debaixo dos mesmos telhados. Fiz uma ideia generalizada, não seria o oposto da mentira que prevalece!
Parti, arrependi-me, mas, não estou arrependido! Foi bom absorver um pouco da essência do viver neste planeta.
Esta viagem em nada me acrescentou! Afinal, ouvi da boca de muitos o que pensava ser bem diferente. Engano meu, por certo, tenho uma verídica certeza, estou só neste mesmo lugar cinzento, dos mesmos muitos que levam à vida a mentir, a fingir, só para parecer que são mesmo diferentes.
Já fui feliz e não sabia e esse tempo foi de quando ainda eram vivos os meus queridos pais, verdadeira família, os meus melhores amigos.
Nada mais me resta senão viver aqui, ali, até que um dia alma me doa já desfeita e viaje definitivamente para um lugar bem distante. Hum! Pensava eu ser infeliz! Que absurdo!
Enfim…
Autor: Walter Aguiam.