Dou por mim a querer acordar esperando que o meu despertador seja o timbre da tua voz acompanhado pela melodia dos teus dedos. Dou por mim a percorrer com o meu nariz o lençol que te cobre, a almofada onde depositas sonhos por viver e pensamentos verbalizados. Dou por mim a admirar as tuas longas pestanas, desde a raiz até às pontas. E sendo pontas soltas a formar a minha vida neste momento, dou por ti a ligá-las sem dares conta, e a formares com ela uma malha perfeitamente tecelada e impossível de desfiar.
Dou por mim a explorar a interessante mistura de cinzento com castanho que rodeia as tuas pupilas. E a desejar alimentar-me constantemente delas, e da tua pele quente, que bate aos pontos qualquer lençol macio. Dou por mim a não me querer cansar nunca de ti. E a querer mais chegadas do que partidas, ainda que atabalhoadas. E a não querer falar demasiado do que me leva a escrever tudo isto, porque desde o momento em que o dissemos um ao outro, tudo foi dito. É na cumplicidade do silêncio que ambos nos entendemos.
Dou por mim a sentir que te conheço há anos. Que os relógios passam a a ser objectos completamente inúteis perante a tua presença. Dou por mim a querer sentir-te mais e mais, e ainda assim saber tão a pouco... O pouco com o qual se faz muito...
Dou por mim a amar-te. Só isso.
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