Destino

 

Destino

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O futuro chega sempre. E a indecisão sempre passa. Mas é no passado que a mágoa nasce. De onde não mais se vê vida. Vem ligeira, discreta, mas quase a roubar-nos a vida que ficou.

Tenho saudades tuas. Podes descer do pedestal, já não te amo. Mas esse amor que já não sinto, porque só existia para ti e tu já não estás, não diminui a imensidão do vazio que criaste. Mas estou proibida de falar. Todos sabem o que sinto, mas a expressão da palavra é a arma mais dura da arrogância e não quero que me olhem como a fraca que não sobreviveu à batalha. Mal eles sabem que partiste muito antes de te teres ido embora. Não quero que me destruam agora que encontrei outro alguém que me faz feliz. Não posso expressar a saudade que sinto, porque a vida miserável que vivem, impede qualquer um de proclamar sobre o que o destino lhe trouxe na sorte.

Nunca acreditaste em coincidências. A sorte, o azar, o destino, eram só uma invenção barata de um qualquer filósofo que precisava de atenção. Sempre fomos diferentes por isso: o pragmático, sempre sombranceiro e insolente, e a sonhadora, que acredita que a vida dá a quem se deu. Nunca suportaste a minha fé, a confiança na capacidade do tempo e do destino trazerem o que precisamos, precisamente no momento em que não estamos à espera.

Acreditas que a sorte se constrói, que o tempo não cura nada, só envelhece o ser humano, e que a meta é não regredir, mas nunca recomeçar. Mesmo que sintas o coração fora do peito, a bater desalmadamente sozinho porque o habituaste a essa sofreguidão, mesmo que tenhas perdido o amor da tua vida, ou que o mundo tenha desabado em ti, é o trabalho que faz o homem, ou pelo menos é nisso que acreditas. E não há morte, desilusão ou tragédia que te ofusquem o caminho. Segues em frente. Afinal, é onde há mais dificuldade que os grandes heróis são descobertos.

Ainda acreditas nisso? Agora que me abandonaste para poderes estar com ela e que ela te morreu nos braços ainda é nisso que acreditas? Agora que o destino ou o que quer que te tenhas convencido que causou tudo isto, a levou para longe de ti ainda continuas tão arrogantemente racional e insensível? Não te sentes traído? Por ela, pela vida? Ou continuas nessa postura impassível de não deixar que nada te afete, enquanto te ocupas apenas o suficiente para não caíres no precipício que é a tua mente? Espero que tenhas cedido a mostrar-lhe o ser humano fantástico que és. Afinal, a vida não esperou por ela. 

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