Gosto das manhãs de vez em quando. Não é de vez em quando que gosto delas. É mesmo das manhãs que são de vez em quando, sabes? Daquelas que não acontecem com frequência, pois seriam banalizadas, mas que também não demoram eternidades a surgir. Nesses dias fumo cigarros na varanda, observando o velhote abrir os portões do jardim de São Lázaro, com cara de quem está farto deste Inverno que só não congela as partes a quem as não tiver. Falo, claro está, do porteiro. O São Lázaro não vive ali. Eu pelo menos nunca o vi, a não ser que o porteiro se chame Lázaro e eu não saiba, o que não me surpreenderia porque de santos nunca percebi grande coisa. Suponho porém que até para eles existam manhãs como esta, de vez em quando. Que se disfarcem de gente abrindo portões a jardins e coloquem o manto de lado para que homens fumando nas varandas os possam ver e sentir que não estão sozinhos. Pelo menos não sempre, só de vez em quando.
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