Cobrança

 

Cobrança

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Ela sabe o que quer.

Através de ruas inundadas de néon, por entre nevoeiro húmido e vultos ébrios que se apressam a sair do seu caminho, ela sabe o que quer.

Os saltos altos ecoam na calçada molhada e o vestido carmim dança-lhe nas pernas. Como asas de corvo perdidas no vento, os seus cabelos pretos agitam-se suavemente no ar.
Da sua mão pende uma lâmina longa e fina que reflecte com frieza as luzes falsas da noite.

Ela sabe o que quer.

Não hesita ao percorrer as ruas serpenteantes que sobem em direcção ao castelo que se ergue da neblina, os seus olhos escuros ardendo com um brilho faminto e os lábios torcidos num sorriso arrogante.
O mundo é-lhe indiferente, uma mera cacofonia de sons e espasmos de movimento e ela própria desfaz-se aos olhos dos outros, como uma miragem, um sonho acordado e perdido no inconsciente recalcado da velha cidade.

Mas, ela sabe o que quer.

Imparável, inevitável, portões abrem-se diante dela, muralhas fendem-se e pontes erguem-se para lhe oferecer passagem. Ela embrenha-se nas entranhas do castelo, cujos caminhos não lhe são desconhecidos, até que, por fim, sobe para o topo da torre mais alta e olha em redor, para a cidade que se estende em redor do Castelo na Colina, a cidade que se pensava imortal, eterna e intocável.
Ela ri ao ver o longo rasto de corpos inertes que deixou para trás, ri ao ver as suas almas erguerem-se e fundirem-se com o nevoeiro pesado que serpenteia por toda as avenidas, ruas e vielas.

Ela limpa a espada manchada de sangue ao vestido.

Ela consegue sempre o que quer.

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