Claro que sei...
Às vezes quando me sento vejo-me por dentro. Às vezes quando procuro nos meus arquivos recordações dos momentos que a vida me deu, empolo-me p’los caminhos que percorri.
Às vezes quando me olho no espelho, reparo que o reflexo já não é o mesmo. Às vezes quando me quieto sei, claro que sei, que a realidade da vida é inevitavelmente o reflexo inverso da verdade e do estado puro dum diamante. Às vezes...às vezes fico perplexo quando a brisa do vento me seca a pele e me deixa arrepiado quando por mim passa e também nos sentimentos tal como na pele, a brisa secou-me a paixão, secou-me a razão e secou-me de palavras. Já não digo nada, já não tenho forças para gritar, já não entendo os verbos nem as expressões que outrora tinha...tão pouco sei qual o seu significado e como as dizer. Os dias vão passando por mim sem me trazerem nada de novo, e à medida que o Justo luta contra tudo e contra todos, eu revejo-me e mergulho numa guerra fanática de sentimentos. Ahhh meu Deus... quão grande foi esta minha carcaça que hoje carrega nos ombros o peso dos meus erros e das minhas fraquezas.
Às vezes grito...mas grito por dentro,às vezes riu-me...mas riu-me de mim...às vezes também choro... mas choro lágrimas de sabor amargo que não sabem a nada...e também brinco... mas sei, claro que sei, que já não sei brincar...quantas são as saudades do tempo em que o meu brilho interior era o reflexo na expressão dos meus olhos, e a minha boca entreaberta dividia com os lábios, ecos que me vinham da alma e que serviam para soletrar cada momento de prazer e de paixão.
“...Tinha tanto para dizer...
...Tinha tanto para gritar...
…Tinha quase tudo...
…Tinha...
…Não tenho nada...”
Cascais 17 de Julho 2016
José Mirador Santos
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