Português
Ao lado da casa da minha avó, morava uma menina, da qual eu não me lembro o nome, mas a chamávamos de Biruta. Esse apelido não sei quem foi que deu a ela, ou se foi ela mesma quem falava para eu e meus irmãos, quando passávamos pela casa dela. Era uma menina muito tímida e estava sempre em pé ao lado da cerca da casa dela. Acredito que não tivesse amigos, por isso vivia muito só. Cada vez que passávamos por ela, gritávamos assim:
- Oi biruta!
Ao que ela respondia: Biruta é tu!
Às vezes dava vontade de dizer outras coisas, mas na verdade, nomes feios ninguém dizia, porque minha mãe proibia e era tão austera nesse sentido que uma vez me trocou de escola, porque a amiga com quem eu ia sempre à escola, dizia nomes feios, portanto, não era boa companhia. Muitas vezes eu jogava bola de gude com meus dois irmãos ou íamos até a casa da avó, escutar as estórias do meu avô. Num desses dias, a menina a quem chamávamos Biruta, me chamou na cerca divisória entre a casa dela e a da minha avó e ficamos ali, eu embaixo de um pé de bananeira, conversando sobre alguma coisa. De repente, senti algo quente escorrer da minha testa. Levei a mão ao rosto e percebi que era sangue. Mas de onde veio aquele objeto que me acertou? Do céu? Tinha sido a Biruta que me acertou, com algo que eu não percebi? Caído ao chão estava uma estaca de madeira, daquelas com ponta afilada, que é usada como marco nas construções. Como eu comecei a chorar, meus irmãos e meu tio, que era o mais velho de todas as crianças, correu para ver o que tinha acontecido. Havia sido ele mesmo que havia lançada a estaca por cima da bananeira e veio cair exatamente na minha testa. Corri para casa e a minha mãe, a partir daquele dia me proibiu de brincar com os meninos. Da lembrança desse dia, ficou uma pequena cicatriz na minha testa, tão pequena que só eu sei onde ela se encontra.
Débora Benvenuti
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