“Só”
Deixo as cores fluírem
Entre o fogo
De mil e uma lágrimas,
Talvez em vão
Preso nas garras
Reminiscentes.
Repleto de sombras
Perco-me
Num nevoeiro mental
De mundos silenciados,
Pelo acalmar da solidão
Que me inspira….
“Luz”
No cruzar de duas histórias
Tão pateticamente frágil
É esta nuvem decadente
Da qual escapo
Arrastado cegamente
Pelo sabor de cristais,
Numa máquina do tempo
Que renova a força interior.
Como uma árvore
Crescendo mesmo danificada
Num improvável equilíbrio
Percorro a tua face
E se me prende a alma
Ao mais belo dos sorrisos…
“Amor livre”
A origem de tudo
Cresce e morre
Com sentimentos
O amor nasce
Com um sorriso
Morre com uma palavra
Acorda com uma lágrima
Desaparece com um adeus,
A amizade desperta
Quando morre um amor
Adormecendo depois
Num grito de dor
Rejuvenesce com a saudade
E sem liberdade vive…
“Dedicatória”
Nem sempre sóbrio
É o paladar desta tinta
Que se envolve
Na alma dessa voz
No entrelaçar dos dedos
Quando a harmonia
Dos sentimentos
Não mais limita
A felicidade
O sol devora
Todo o seu brilho
Promovendo a união
De duas almas…
“Sal”
Gotas nuas, despidas
Este limiar de saudade
Frívolas essas ruas
Onde ecoa o pulsar
Em olhos tal espelhos
De vagas lembranças;
Fugaz esta liberdade
Colorida entre a escuridão
Persistente habita
Eternos cristais salgados
Memorias caídas
De verdes sonhos…
“Revelação”
Neste deserto de sombras
Contido em mágoas
Desenho palavras em sonhos
Já farto dos danos
Que me sustentam
Refletidos no espelho
Além do aparente nada
Um pardacento paraíso
Vibra neste silêncio
Como um espectro
De emoções bordadas
Pedaços de uma vida
Ainda em construção…
“Ventos de mudança”
Num movimento rítmico
Tudo se transforma
A melodia eleva-se
No bater de asas coloridas
Nesta cidade de ouro
Sem vida, sem estatuto,
Um brilho cristalino
Eufórico engole
Novas paisagens inquietas
Como um paladar hipnótico
Deambulando na retina
Exposto de forma
Tão simples
À mais leve das partículas…
“Regresso”
Novamente desapareço
Num final de caminho
Que a minha mente
Livremente criou
Mostro-me assim
Sem mim, sem alma
Entre a paz e o infinito
Continuando a navegar
Nas partículas partidas
De um forte coração…
“Olhar presente”
O sopro de um relâmpago
No brilho de uma estrela
Uma sensação que converge
Na sua inutilidade
Sem vaga hipótese
De se sentir emoção
Escorre e fica
No delírio comportamental
Que na solidão se invoca
Se prende nesta noite
Que tão vazia
Se vê louca
Que dia já é…
“Bom porto”
A transparência da alma
É fugaz livro
De meras lembranças
E frágil o conteúdo
Que espelha quebrando
Partículas já fracionadas
De uma memória
Como um pavio
Em trágica tempestade
Arde na bruma
A verdade tão cruel
Que vazia de esperança
Assombra mais mundos
De realidade fantasma…
“Muralha”
Prolongada a dor
Por tempo sem fim
Solitário o coração
Habita mundos de sonhos
Em cada esquina
Teu rosto gravado
Pelo vento que sopra
Aos poucos esperança
Perdida na tristeza
Que num momento
Rasgou uma alma
Morta, perdida
Em devaneios lúdicos…
“Ponteiros”
A inutilidade do tempo
É sombra projectada
Num mecânico futuro
Sob um céu negro
Desígnio de má sorte
Perdido na verdade
Louco, impaciente
Uma fria miragem
Docemente absorvida
Da sua aparente acalmia
Um jardim suspenso
Num vago nada
Um tempo irreal
Inútil, sujo…
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